Campanha da Fraternidade começa em meio a polêmicas
O tema critica posturas da negação da ciência e também aos desrespeitos
Nesta Quarta-Feira de Cinzas (17) começou a Campanha da Fraternidade 2021. E o tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, onde a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza crítica sobre temas ligados à negação da ciência, durante a pandemia do coronavírus, a postura e o desrespeito do Governo Federal sobre o assunto, além de outros atos de desrespeito.
Também existem pontos tocados, onde a própria igreja recebe críticas, como é o caso da falta de respeito do distanciamento social, já que muitos templos religiosos tem passado do limite estabelecido, visando evitar o contágio da COVID-19. Outro tema tocado é em relação a uma ‘cultura de violência’ existente contra mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTQI+.
Campanha para as pessoas LGBTQI+
O texto da Campanha da Fraternidade de 2021 cita dados do Atlas da Violência 2020. Segundo a publicação, em 2018 “420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas trans”.
“Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, diz texto da Campanha da Fraternidade.
O documento contextualiza parte da história da relação entre a religião e a sociedade, fazendo um paralelo com o cenário atual. O texto cita que, no Império Romano, “como estratégia militar e de conquista para manter a falsa paz, utilizavam, por vezes, a religião como instrumento de manutenção da hierarquia social”. Em seguida, cita que “esse sistema de segregação e descarte de pessoas consideradas empecilhos e inúteis permanece ainda hoje”.
“Jesus questionou essas estruturas de poder e desigualdade. As pessoas não poderiam ser descartadas e sofrer as consequências para a manutenção de um poder segregador”, diz o documento.
As igrejas em tempos de pandemia
Nem mesmo as igrejas Católicas e Cristãs escaparam das críticas em relação a medidas protetivas contra o coronavírus. Após ficarem por meses fechadas e realizando celebrações online, a partir de agosto elas começaram a ser liberadas para os cultos e missas presenciais. Mas tinha sido estipulado que um limite de pessoas, além da adoção de todo um protocolo de higiene fosse seguido. O que acabou não acontecendo.
O texto-base cita que “o governo brasileiro não adota políticas efetivas no combate à COVID-19”, e que a pandemia “dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”. Diz ainda que “algumas igrejas reivindicaram o direito de permanecerem abertas, realizando suas celebrações, apesar das aglomerações causarem contaminações e mortes”.
“Surgiu a discussão sobre o que seria essencial no papel desempenhado pelas igrejas: o templo aberto e as celebrações numerosas ou o serviço ao próximo e à próxima?”, questiona o documento.
O negacionismo também é alvo de reprovação no documento. Em um trecho, as autoridades religiosas afirmam que “teorias conspiratórias de que o coronavírus fora desenvolvida em laboratório, na China, contribuíram para fomentar a luta geopolítica, bem como a xenofobia”.
“Discursos negacionistas sobre a realidade e fatalidade da COVID-19 são recorrentes, assim como a negação da ciência e do papel de organismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
Reação
A repercussão sobre a Campanha da Fraternidade 2021 gerou sérias críticas, tanto nas redes sociais, como até mesmo por outros grupos religiosos. Movimentos defendem que fiéis não façam doações para a campanha, que também tem como objetivo arrecadar recursos para melhorias nas igrejas e projetos sociais.
Parte do público que não apoia o tema afirma que o documento foi escrito por apenas uma pessoa. Mas a Conic afirmou que a redação “foi resultado de um processo coletivo de construção, que iniciou no final de 2019” e que “teve participação direta de pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em especial, sociologia, ciência política e teologia”.
Após o caso, a Aliança de Batistas do Brasil divulgou uma nota de solidariedade às instituições e apoio à campanha, classificando os ataques como ‘demoníacos’.
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