
Nesta quarta-feira (16) a CPI da Covid ouviu o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witsel. Só que ela foi encerrada ainda no início da tarde graças a um habeas corpus que ele possuía do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela já durava quatro horas.
A decisão do ministro Nunes Marques garantiu um habeas corpus a Witzel que permitia a ele não comparecer ao depoimento e, comparecendo, ficar em silêncio sempre que julgasse conveniente e não ser obrigado a firmar compromisso de dizer a verdade. O ministro concedeu o HC porque Witzel é investigado por fatos em análise na CPI e não pode ser eventualmente obrigado a produzir provas contra si mesmo.
Na audiência, os senadores sugeriram que fosse realizada uma nova oitiva com Witzel, dessa vez reservada, caso ele compreendesse que tem “informações sensíveis” a relatar. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou o pedido.
“Acreditamos que o ex-governador ainda tem muito a falar e não podemos deixar o relatório da CPI ser atingido por interferência e intimidações externas”, informou. O ex-governador disse ainda que, em uma sessão reservada, faz “questão” de apresentar novos elementos, entre eles o rompimento entre ele e a família Bolsonaro. Witzel disse ter conhecimento de “fatos graves”.
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) propôs que a oitiva a portas fechadas fosse realizada ainda nesta quarta-feira. Witzel, no entanto, pediu um prazo maior. “Eu pediria também para que nós pudéssemos fazer isso em outra oportunidade, até para que eu possa me preparar para trazer elementos, inclusive. Até para poder também juridicamente preparar, para saber se daquela sessão de sigilo de Justiça poderão adotar medidas cautelares com apoio do Judiciário. Os fatos são graves”.
O depoimento
Wilson Witsel realizou ataques a Jair Bolsonaro (Sem partido). O ex-governador era aliado do presidente, mas ao longo do mandato entrou em atrito político com o presidente, que se agravou na pandemia. Bolsonaro sempre atacou as medidas de isolamento social recomendadas pelas autoridades sanitárias e adotadas por governadores para conter o vírus.
Ele contou que o Governo Federal “deixou os governadores à mercê da desgraça que viria” na pandemia e que Bolsonaro criou o discurso de perseguição aos governadores por ser contra as medidas de distanciamento social.
Witzel afirmou também que Bolsonaro não tem diálogo com os governadores e que o auxílio emergencial demorou a começar a ser pago, o que dificultou a adoção de medidas contra o vírus. “O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado, aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou”, afirmou o ex-governador.
“Foi a narrativa de que ‘os governadores vão destruir os empregos’, porque sabia o senhor presidente da República que o isolamento social traria consequências graves à economia. E eu avisei a ele. O senhor presidente precisa liderar, sentar na cadeira de presidente, e não ficar fazendo motociata, carreata, porque o que nós vimos no Rio de Janeiro foi vergonhoso”, afirmou.
Bate-boca
O clima esquentou na CPI da Covid, quando Wilson Witsel e o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas) trocaram acusações. Flavio Bolsonaro disse que fazia “questão de desmascarar” Witzel e questionou fala do ex-governador de que é “perseguido”. Mencionou acusações contra Witzel, disse que o ex-governador estava mentindo, que usava a CPI como “palanque político” e que “tem a mão suja de sangue entre esses quase 500 mil mortos”.
“Esse, sim, é o culpado. E vem aqui e cria um monte de narrativa mentirosa. E eu faço questão de desmascarar porque ele foi eleito mentindo, enganando a população do Rio de Janeiro, e se revelou depois que sentou naquela cadeira de governador”, declarou ao senador.
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