

Um dos depoimentos mais aguardados na CPI da Covid, o do empresário Carlos Wizard, aconteceu, mas ele não respondeu e preferiu ficar em silêncio por 70 vezes. A reunião ocorreu nesta quarta-feira (30) e os senadores fizeram diversas perguntas sobre as vacinas, a atuação do governo federal e a relação com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Wizard deveria ser ouvido no dia 17 de junho. Só que ele não compareceu e no dia seguinte, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a condução coercitiva do empresário, que estava nos Estados Unidos. A defesa de Wizard, então, procurou a CPI, e a audiência foi marcada para esta quarta.
Wizard foi convocado a dar explicações sobre duas suspeitas da CPI:
- integrar o “gabinete paralelo”, que teria assessorado o presidente Jair Bolsonaro em assuntos relacionados à pandemia;
- financiar a difusão, nas redes sociais, de conteúdo falso sobre a Covid, incentivando o uso de remédios ineficazes contra a doença.
Carlos Wizard obteve no Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, o direito de ficar em silêncio para não produzir prova contra si. Nesta quarta, o empresário limitou-se a fazer um pronunciamento no início da audiência. Disse que jamais teve conhecimento de qualquer “governo paralelo”, que nunca participou de reunião com Bolsonaro e também negou ter financiado “qualquer espécie de comunicação” sobre medicamentos.
Irritação com o silêncio
Com a permanência do silêncio de Carlos Wizard, os integrantes da CPI ficaram muito irritados e reagiram com a postura do empresário. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) disse que a comissão vai recorrer da decisão do Supremo que garantiu o direito de Wizard permanecer em silêncio. Antes, foi divulgado vídeo no qual o empresário defende a propagação de remédios sem eficácia e afirma que só morreram de Covid em uma cidade do interior de São Paulo aqueles que ficaram em casa.
“Iremos recorrer, fazendo um apelo ao Supremo para que possamos dar como essa fala do senhor de exemplo, porque não pode ficar impune. O senhor não pode ficar impune em nome de 516 mil vidas”, disse Aziz. Em meio às repetidas respostas de Wizard, recorrendo ao direito de permanecer em silêncio, o presidente da CPI ironizou: “É melhor ele pegar um gravador e botar aqui.”
Já o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), ressaltou que a comissão terá acesso “a todas as informações” e a “todos os instrumentos legais” que podem colaborar com a investigação. Renan ainda ironizou o fato de os “machões da internet” ficarem “caladinhos” na CPI.
“Eu estou satisfeito pelas perguntas que fiz e até mesmo pelas respostas que não obtive, já que a tecnologia hoje nos permite guardar esses vídeos que foram veiculados em função de campanhas produzidas pelo governo federal e que contaram, lamentavelmente, com muitas pessoas e até com empresários valorosos na sua veiculação como charlatanistas”, reforçou o relator.
Veja as perguntas não respondidas:
- O senhor conhece o deputado Ricardo Barros?
- Qual é a sua relação com o Ricardo Barros? Falam-se com frequência?
- Qual a sua ligação com o general Pazuello?
- Vossa senhoria sabe informar se se vacinou e com qual vacina?
- O senhor tem conhecimento, patrocinou, deu apoio ao trabalho da Dra. Nise Yamaguchi?
- O senhor continua atuando junto ao Ministério da Saúde?
- No Ministério da Saúde, o senhor conheceu Roberto Ferreira Dias?
- O senhor, de alguma forma, acompanhou ou teve conhecimento sobre as tratativas para a compra da Covaxin, do laboratório Bharat Biotech?
- Você usou a proximidade junto ao Ministério da Saúde para facilitar a assinatura de intenção de compra da vacina CanSino?
- O senhor participa de algum grupo de empresários que financia ações de apoio ao presidente da República, com campanhas publicitárias favoráveis a ele?
- Quanto o senhor ou suas empresas gastaram com a divulgação de informações em redes sociais sobre a pandemia?
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