Aconteceu nesta quarta-feira (22) o depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, na CPI da Covid, em Brasília. Ele acabou confirmando que a operadora orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, o código de diagnóstico (CID) dos pacientes que deram entrada com Covid-19.
Enquanto o depoimento era dado, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), decidiu converter o executivo da condição de testemunha para a de investigado pela comissão. Dessa forma, há a indicação que a comissão vê indícios de cometimento de crimes.
O texto dizia que era necessário “padronizar” o código para todos os pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19.
“Após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apto) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/Leito híbrido), o CID deve ser modificado para qualquer outro. A exceção é para o B34.2 (código da Covid-19) para que possamos identificar os pacientes que já não têm mais necessidade de isolamento. Início imediato”, informava mensagem encaminhada por um diretor.
Aos senadores, Batista Júnior afirmou que “todos os pacientes com suspeita ou confirmados com Covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2. Este é o CID de Covid”.
“E, após 14 dias — ou 21 dias para quem estava em UTI —, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID já poderia ser modificado. Porque eles não representavam mais risco à população do hospital”, acrescentou.
Indícios de subnotificação
A CPI recebeu indícios de que a operadora subnotificou e ocultou mortes por Covid ocorridas em suas unidades. A modificação do CID, de acordo com uma ex-funcionária da Prevent Senior, faz com que o diagnóstico de Covid desapareça de um eventual registro de óbito.
Senadores criticaram a alteração do CID. “O senhor, como médico, é inacreditável. Não tem condição de ser médico com a desonestidade com o que fez agora. Sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune”, afirmou Otto Alencar (PSD-BA), que é ortopedista.
“Eles consideram que depois de 14 dias esse paciente não tem mais Covid, ou que depois de 21 dias não tem mais Covid. Essas pessoas que morreram, morreram de complicações de quê? De Covid. Então é Covid. É lógico que isso é uma fraude”, afirmou Humberto Costa (PT-PE), que também é médico.
“Depois dessas informações estarrecedoras que nós soubemos nos últimos dias e vimos hoje aqui, lamentavelmente nós constatamos que essa Prevent Senior não é um plano de saúde. É um plano macabro de mortes, que tinha a ousadia, a pretensão de mudar a medicina do mundo com um estudo que foi vazado pelo Eduardo Bolsonaro”, afirmou o relator.
Resposta da operadora
A assessoria de imprensa da Prevent Senior se pronunciou após o depoimento e informou por meio de nota que a mudança do código “se dava num sistema informatizado de gestão interna de leitos”. “As notificações oficiais de casos e mortes de Covid não eram nem são afetadas por estes procedimentos administrativos”, diz a assessoria.
Mortes ocultadas
A Prevent Senior também foi acusada de ocultar mortes de pacientes por causa da Covid. Entre as vítimas estavam o médico Anthony Wong, em 15 de janeiro e também de Regina Hang, de 82 anos, mãe do empresário Luciano Hang, dono da Havan. Ela morreu em 4 de fevereiro após complicações relacionadas ao coronavírus.
Os prontuários revelaram que os dois foram internados no Hospital Sancta Maggiore, da Rede Prevent Senior. Os pacientes foram medicados com o chamado “kit Covid”. Ela é uma série de medicamentos, mas sem comprovação científica na prevenção ou tratamento da doença. A Prevent, por meio de nota, informou que por “limitações éticas e legais não pode fornecer ou confirmar informações de pacientes e de seus parentes”
Na certidão de óbito de Wong, ficou constatado que o pediatra morreu de choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus. Mas não faz menção à Covid. Quando Wong morreu, o Sancta Maggiore não informou a causa da morte à imprensa.
No atestado de óbito de Regina Hang, a Prevent também não menciona o coronavírus: disfunção múltipla de órgãos, choque distributivo refratário, insuficiência renal crônica agudizada, pneumonia bacteriana, síndrome metabólica e acidente vascular cerebral isquêmico prévio.
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