Artigo – O colapso do Silicon Valley Bank e o futuro das startups
As startups ganharam fama com serviços facilitadores e também como fonte de renda
Por Jorge Santana (Fundador da Infox Tecnologia)
Fundado em 1983 e com sede em Santa Clara, Califórnia, o Silicon Valley Bank (SVB) se tornou um banco comercial focado em financiar empresas de tecnologia, startups e empresas inovadoras em geral. Inclusive, foi um importante financiador de marcas de tecnologia de sucesso, como Apple, Google e Amazon.
Para se ter ideia do seu posicionamento, tornou-se um dos 20 maiores bancos comerciais americanos, com US$ 175 bilhões (cerca de R$ 900 bilhões) sob gestão, além de ter participado de 44% dos IPOs (oferta inicial de ações) de empresas de tecnologia e saúde em 2022.
Durante os anos de 2020 e 2021, quando a pandemia da covid-19 atingiu seu pico, os juros nos Estados Unidos estavam praticamente zerados, o que impulsionou investidores a buscarem ativos de maior risco, como startups. Resultado: o investimento nessas empresas cresceu significativamente e impulsionou o crescimento do SVB, levando a um aumento de 86% nos depósitos no banco em 2021.
No entanto, no ano passado a situação começou a mudar, quando o Federal Reserve Bank (Fed) deu início ao aumento dos juros para tentar controlar a inflação, que atingiu o nível mais alto registrado nos EUA em 40 anos. Isso fez com que os investidores deixassem de lado as startups em favor de títulos do governo, que são considerados mais seguros e passavam a oferecer rendimentos atrativos.
Como consequência, as empresas de tecnologia começaram a sacar seus depósitos do SVB para manter suas operações, o que deixou o banco em uma situação delicada. A falência foi consumada em seguida, quando startups e fundos correram para tirar mais dinheiro do banco, obrigando os órgãos reguladores do sistema financeiro dos EUA a tomar o controle do SVB.
Diante do pânico instalado no ecossistema das startups americanas, restou o apelo ao governo para garantir o resgate dos valores que ultrapassassem a cobertura do fundo garantidor (US$ 250 mil), sob pena de uma insolvência generalizada que as impediria até de honrar as folhas de pagamento.
Nessas horas, novamente, o risco é transferido para o Estado que, felizmente, não é mínimo. E, assim, o governo americano abriu um importante precedente, garantindo os créditos sob custódia do SVB, independentemente dos valores, na expectativa de estancar a iminente possibilidade de contágio do sistema financeiro do país. Afinal de contas, 2008 deixou muitas lições, supostamente aprendidas.
Quanto aos impactos do colapso do SVB no ecossistema de startups, o principal é a redução da disponibilidade de capital, agravando um cenário de escassez que se instalou desde o ano passado. Esta carência de crédito, frise-se, não se deu apenas porque os investidores foram atraídos pelos títulos públicos, mas também pelas frustrações com os resultados de grande parte dos investimentos realizados em startups, que se revelaram incapazes de gerar caixa e exímias praticantes do desperdício generalizado de recursos.
Enquanto importante provedor de capital de risco para empresas em estágio inicial, muitas startups dependiam do SVB para obter financiamento, passando a ter dificuldade em encontrar fontes alternativas de crédito. Como consequência, pode-se esperar uma onda de fusões entre elas. Em outros casos, poderão ser adquiridas, a valores bem mais baixos, por grandes empresas que já vinham adotando seus produtos para acelerar processos de inovação.
O CEO da Y Combinator, maior aceleradora de startups do mundo, Garry Tan, chegou a dizer que esse momento pode provocar uma quebradeira generalizada. “Esse é um evento de nível de extinção em massa para startups e atrasará as startups e a inovação em dez anos ou mais”, escreveu em uma rede social.
Apesar de todos esses prognósticos negativos, é importante lembrar que a comunidade de startups é muito diversificada e existem vários outros bancos e investidores que fornecem financiamento para empresas inovadoras. Portanto, embora o colapso do SVB produza impactos significativos, o ecossistema de startups certamente será capaz de se recuperar com o tempo.
A principal lição, contudo, é sobre corrigir a distorção do modelo de negócio da maioria das startups, mal acostumadas que foram nos anos de fartura em que a alocação de recursos, muitas vezes vultosos, ocorreu sem maiores preocupações e cuidados. De agora em diante, um plano de negócios consistente volta a ser requisito obrigatório e o encurtamento do lapso temporal entre receber o investimento e gerar caixa que garanta a sustentabilidade do empreendimento, essencial.
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