Eleições

Jornalista político faz balanço da campanha eleitoral e as projeções pós-eleições

A perspectiva inicial é de buscar reparos na economia

Certamente as Eleições de 2022 já entraram para a história como uma das mais equilibradas e tensas de todos os tempos no Brasil. Além de disputas nas pesquisas e nos votos serem decididas nos detalhes, o pleito eleitoral também ficou marcado por muita confusão e infelizmente por mortes.

Mas afinal por quê há tanto equilíbrio, sendo que nos últimos anos o clima era outro? Para o jornalista político Marco Santana, do Jornal da Orla de Santos, Litoral de São Paulo, a disputa eleitoral está marcada pela polarização do bolsonarismo e da tentativa de volta do PT, tanto na presidência, como nos governos estaduais. Ele faz um balanço do andamento das campanhas nos pleitos federal e estadual.

“Na disputa presidencial, há claramente uma polarização e a disputa será vencida pelo candidato que tiver a menor rejeição. O resultado da eleição vai indicar se há ou não mais eleitores que odeiam Lula e o PT, uma vez que o desempenho do governo Bolsonaro nas mais diversas áreas (enfrentamento da pandemia, proteção ao meio ambiente, combate à corrupção, incentivo à cultura e respeito aos órgãos de Estado) é péssimo”, explica.

“A disputa estadual reflete a polarização a nível federal, mas com dois candidatos com perfil mais moderado. Também o que vai definir a eleição é o nível de rejeição ao Partido dos Trabalhadores, já que o candidato representante do bolsonarismo não tem nenhum vínculo com o estado de São Paulo”.

Clima de tensão

Quando se fala em eleições, logo imagina-se em disputas mais acirradas em diversos estados, e no Brasil como um todo. Marco Santana revela qual a diferença do pleito atual.

“Sempre houve disputas acirradas nas eleições brasileiras, a novidade desta é a manifestação do bolsonarismo. O bolsonarismo é anterior à vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Trata-se de uma maneira de ver o mundo caracterizado pelo ódio, violência, preconceito e fundamentalismo religioso, que uma parcela significativa da população brasileira sempre teve mas tinha vergonha de demonstrar”.

“A vitória de Bolsonaro permitiu que estas pessoas ‘saíssem do armário’ e manifestassem o machismo, racismo, homofobia, aporofobia e outras intolerâncias”.

Marco também conta que o perfil do eleitor teve importantes mudanças nos últimos anos. “Há basicamente dois tipos de eleitor: o engajado, que acompanha o noticiário político a partir das informações que circulam em suas ‘bolhas’ e o eleitor que se preocupa com o processo eleitoral apenas às vésperas da eleição. É este segundo grupo que define o resultado da eleição, e muitas vezes acaba definindo seus votos baseados em mentiras e fatos distorcidos ou descontextualizados. Daí a importância da divulgação de informações com responsabilidade”.

São Paulo e o reflexo dos governantes eleitos

Marco Santana faz uma análise sobre como o Estado poderá reagir nos eventuais eleitos. Tanto se Tarcísio de Freitas (Republicanos), como Fernando Haddad (PT), conseguirem a vitória, São Paulo terá uma profunda mudança após 28 anos de gestão do PSDB.

“Caso Tarcísio vença, que é o cenário mais provável, o comportamento dele vai depender do resultado da eleição presidencial. Se Lula vencer, a tendência é Tarcísio se distanciar do bolsonarismo e realizar um governo conservador, mas não de extrema-direita. Neste cenário, Tarcísio já inicia sua gestão como virtual candidato a presidente em 2026, representando o espectro conservador”, conta.

“Mas caso Bolsonaro se reeleja, é provável que a médio prazo aconteçam faíscas nas relações entre o presidente e o governador, pois Tarcísio é um político de direta moderado e será pressionado a tomar atitudes mais radicais. No entanto, caso Haddad vença e Bolsonaro se reeleja, certamente teremos grandes conflitos entre os dois entes federativos. Se Haddad vencer em São Paulo e Lula voltar a ser presidente, é provável que se inicie no estado um longo período de governos petistas, como ocorreu com o PSDB”.

Relação com os novos deputados e senadores eleitos

O Brasil teve um grande número de deputados estaduais e federais e senadores que apoiam o atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. Em tese, em uma reeleição de Bolsonaro, este seria um caminho de maior vantagem. Mas Marco Chagas não vê exatamente nesta linhagem.

“Não vejo que a maioria dos parlamentares são favoráveis a Bolsonaro. Se analisar os resultados das eleições, perceberá que os políticos ideologicamente alinhados ao bolsonarismo (Damares Alves, Ricardo Salles, Eduardo Pazzuello etc) são menos numerosos que os políticos do chamado Centrão, aqueles que pautam sua atuação por barganhas e conchavos. Nesse sentido, vão acabar compondo a base de apoio de um eventual governo Lula — como já aconteceu. A dúvida é em que condições será acertado este apoio”, conta.

“O grande desafio do próximo presidente, independentemente de quem vença, é o famigerado orçamento secreto. Caso Bolsonaro se reeleja, a tendência é o Centrão ficar cada vez mais guloso. Se Lula vencer, esta questão é uma verdadeira incógnita, pois provavelmente nem o próprio Lula tem a resposta”.

E na Baixada Santista?

A Região Metropolitana da Baixada Santista teve um maior número de deputados estaduais e federais sendo eleitos. Em tese, isto pode significar uma maior representatividade na busca de recursos. Marco revela quais seriam os reflexos para a região nas eleições para governador e presidente.

“A nível estadual, não vejo que haverá grandes diferenças no tratamento que o Governo do Estado dará às cidades da Baixada Santista. É possível especular que um eventual governo Tarcísio priorize investimentos em infraestrutura e segurança pública e Haddad tente implantar novos modelos de gestão nas áreas de saúde, educação e assistência social”.

Já na questão da busca de recursos e como os parlamentares eleitos e reeleitos para a Baixada Santista, Marco Santana conta que o caminho é mais complexo. “Creio que dependerá mais do ‘humor’ do governo (federal ou estadual) do que do empenho dos parlamentares. Evidentemente, uma representação de melhor qualidade (não necessariamente mais numerosa) tende a pressionar mais os poderes executivos”.

“Isso vai variar de acordo com o parlamentar. No caso de quem foi reeleito é mais fácil saber, há deputado que teve bom desempenho e deputado que apenas se preocupou com firulas. Em relação aos que estão ‘estreando’, de modo geral estão iniciando no mandato, mas já têm experiência política. Assim, este período de ‘aprender da dançar’ será curto”.

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