O Brasil escolhe Lula para ser presidente em eleição histórica
O candidato do PT volta à Presidência após 12 anos, quando esteve no cargo por duas oportunidades
Brasil, 30 de outubro de 2022. As exatas 19h57, foi definido que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o presidente do Brasil. Em uma eleição histórica e bastante acirrada, o ex-presidente venceu com o maior número de votos da história, superando o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), Por 50,88%, o petista venceu o liberalista que obteve 49,12%. Já em números, Lula passou dos 60 milhões de votos, contra mais de 58 milhões de votos de Bolsonaro.
Esta com certeza foi a eleição mais disputada desde a retomada da democracia, em 1989 e outro fato histórico é que pela segunda vez um presidente não conseguiu a reeleição. Antes de Bolsonaro, Fernando Collor, eleito em 1989, não foi reeleito por causa do impeachment sofrido em 1992. Depois disso, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o próprio Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), foram reeleitos em seus mandatos.
Outro fato histórico é que Lula será o presidente mais velho a exercer o cargo da história. Ele está com 77 anos e volta com a promessa de buscar trazer a paz, a retomada da economia, investimentos na saúde, educação, especialmente com os programas sociais, que foram considerados sucesso nas duas gestões anteriores.
Junto com o agora presidente eleito, Lula terá o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB) como o seu vice-governador. Para muitos a parceria entre os dois, que já disputaram a Presidência em 2006, parecia improvável. Mas ela se formalizou e juntos conseguiram formar uma grande aliança com integrantes que eram do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso. Além disso, também foi fundamental para trazer um número considerável de votos nas regiões Sul e Sudeste.
A missão de Alckmin será de um “fiador” da aprovação da reforma tributária. Além disso, também irá atuar para fazer valer a “estabilidade, credibilidade e previsibilidade”, promessas propagadas durante a campanha.
A votação
Lula tinha 50,83% dos votos válidos e não poderia mais ser alcançado por Bolsonaro, que contabilizava os outros 49,17% de votos válidos. Este cenário ocorreu quando haviam 98,81% das urnas apuradas e foi no momento quando a oficialização do resultado foi dada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A campanha do segundo turno durou quatro semanas. Lula e Bolsonaro percorreram o país em busca dos votos dos eleitores indecisos ou que tinham votado em outros candidatos no primeiro turno.
Em um cenário de forte polarização, Lula e Bolsonaro travaram uma “guerra santa” em busca de votos de fiéis religiosos, reuniram aliados e simpatizantes em comícios e caminhadas nas cidades consideradas cruciais para o resultado final e disputaram recordes de audiência em podcasts e emissoras de TV.
Via crucis
Antes do pleito, Lula viveu momentos duros na vida, depois que deixou o cargo, quando Dilma foi eleita. Ele viveu uma série de acusações e julgamentos de corrupção onde esteve envolvido. Já em abril de 2018, Lula se tornaria o primeiro presidente pós-ditadura militar a ser preso, e o primeiro da história do país a ser preso por crime comum. O político tinha sido condenado em duas instâncias. Primeiro em julho de 2017 e, depois, em janeiro de 2018 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.
Lula passou 580 dias preso e só foi solto em novembro de 2019, quando o STF reviu o entendimento da prisão em segunda instância e determinou que os réus do país tinham direito a recorrer em liberdade até o trânsito em julgado.
Enquanto estava preso, Lula chegou a se apresentar como candidato para as eleições de 2018, mas foi obrigado a ceder espaço para Fernando Haddad – que chegou ao segundo turno, mas foi superado por Jair Bolsonaro no que seria a única derrota do PT em eleições presidenciais no século 21, até o momento.
Em março de 2021, o ministro do STF Luiz Edson Fachin anulou as condenações de Lula impostas pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Operação Lava-Jato. A decisão foi confirmada pelo plenário e, com isso, Lula hoje não tem qualquer condenação judicial.
Chapa Lula-Alckmin
O vice-presidente eleito é Geraldo Alckmin (PSB), político que detém o recorde de maior tempo à frente do governo estadual de São Paulo – maior colégio eleitoral do país – desde a redemocratização.
A improvável aliança entre Lula e Alckmin foi confirmada em abril, poucos meses após o ex-governador deixar o PSDB, partido que ajudou a fundar e ao qual foi filiado por 34 anos. A campanha de Bolsonaro chegou a explorar a antiga rivalidade entre os políticos, mas não conseguiu reverter o resultado das urnas.
Ao longo da campanha, Alckmin agiu para reduzir a resistência de empresários e investidores à campanha de Lula. A ideia era sinalizar que um eventual terceiro governo Lula seria moderado, com viés de centro-esquerda e não buscaria “vingança” pela sequência de derrotas enfrentada pelo PT em anos anteriores.
Parabenizações
Após a confirmação do resultado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), parabenizou neste o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pela vitória no segundo turno das eleições e disse que “é preciso ouvir a voz de todos, mesmo divergentes”.
“Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados lhe dá os parabéns e reafirma o compromisso com o Brasil, sempre com muito debate, diálogo e transparência. É preciso ouvir a voz de todos, mesmo divergentes, e trabalhar para atender as aspirações mais amplas”, afirmou Lira.
Em seu pronunciamento, o presidente da Câmara também defendeu a pacificação do país e disse que é hora de “olhar adiante”.
“É hora de desarmar os espíritos, estender a mão aos adversários, debater, construir pontes, propostas e práticas que tragam mais desenvolvimento, empregos, saúde, educação e marcos regulatórios eficientes. Tudo que for feito daqui para frente tem que ter um único princípio: pacificar o País e dar melhor qualidade de vida ao povo brasileiro”, disse.
Lira também defendeu a “lisura, a estabilidade e a confirmação da vontade popular” e disse que não pode “aceitar revanchismos ou perseguições, seja de que lado for”.
O presidente da Câmara afirmou também que “a vontade da maioria, manifestada nas urnas, jamais deverá ser contestada” e que seguirá “em frente na construção de um país soberano, justo e com menos desigualdades”.
Além dele, demais líderes de outros países também cumprimentaram o novo mandato de Lula. Entre eles estão os presidentes da França, Argentina, Portugal, Chile, México, além do premiê da Espanha, Pedro Sánchez.