Cultura

Jornalista aborda o destino da Cultura do Brasil em livro

Publicação questiona a falta de apoio e de investimentos no setor

Desde o início da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), um tema que vem sendo debatido e que sofreu uma série de mudanças foi a Cultura. O governo federal deixou de ter um Ministério da Cultura, para que ela se tornasse uma secretaria Especial da Cultura (SECULT). Esta mudança e a falta de apoio no setor foram temas detalhados no livro “O Fim do Ministério da Cultura: Reflexões sobre as Políticas Culturais na Era Pós-MinC”.

A obra é do jornalista Lincoln Spada, que fez uma longa pesquisa em parceria com o doutor em Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Moreira. O lançamento ocorreu na Associação Cultural José Martí da Baixada Santista em abril. Para à Rede Notíciaz, o jornalista falou sobre a visão de como a cultura brasileira vem sendo tratada.

“É fato que estamos num retrocesso, num momento eclipsado das políticas culturais em nível federal. E que, ao mesmo tempo, os demais entes federativos que só promoviam de modo geral a cultura enquanto entretenimento em tempos de superávit, estão assim sem um farol (o MinC) e em neblinas, em vista da atual recessão econômica e do período pandêmico”, explica.

Ainda de acordo com Lincoln Spada, apesar do cenário ruim, a Cultura segue viva e buscando uma inovação. “Mesmo assim, os trabalhadores da cultura vêm se diversificado e se reinventado digitalmente para conseguirem manter vivas as suas formas de expressão. Logo, o fazer cultural está muito ativo e sendo registrado (efeito das plataformas digitais) e com pautas muito voltadas ao pluralismo e ao contraponto do reacionarismo que nos governa”.

O livro “Fim do Ministério da Cultura: Reflexões sobre as Políticas Culturais na Era Pós-MinC”, é do Imaginário Coletivo. Ele contém 272 páginas e custa R$ 50. Mas para adqurí-lo, basta entrar em contato via WhatsApp (13) 98217-6209.

Confira abaixo mais detalhes da entrevista:

1) De onde veio a iniciativa e o que motivou a fazer a pesquisa e a publicação do tema?

Ainda em 2016, escrevi em co-parceria com o doutor em Ciências Políticas (USP), Rafael Moreira, um artigo sobre a censura nas artes de rua na Praça dos Andradas, em Santos, Litoral de São Paulo, para uma revista virtual da Região.

Confesso não ter notado que situações assim seriam um presságio da atual agenda reacionária contra o pensamento crítico refletido intensamente nas artes. Pouco acreditava que parte do Brasil abraçaria Bolsonaro em 2018.

Com o clamor das urnas, já no início de 2019, decidimos – Rafael e eu – a discutir num livro quais seriam os impactos da extinção do MinC para o setor cultural. Inscrevemos o projeto de livro no Concurso do Facult, do Município de Santos, e, podendo iniciar os trabalhos em meados de 2020.

2) Como e onde foi a pesquisa e quanto tempo levou?

A obra agrega pesquisa e entrevistas. Da pesquisa, se abordo sobre o Sistema Nacional de Cultura (equivalente ao SUS do setor) e indicadores de parte dos programas federais. O Rafael contribui e muito com a visão macropolítica, apontando a influência das ideologias e dos contextos econômicos. Tudo isso desde o início até a extinção do MinC.

3) De tudo o que pesquisou, o que mais te chamou a atenção?

Tenho um amigo pesquisador muito empenhado em se aprofundar sobre as políticas culturais. Trocamos muitas figurinhas para construção do livro e, muito me incentiva, lê-lo as reflexões sobre os conceitos de cultura via discursos de ex-ministros, como Celso Furtado e Gilberto Gil. Eles detalharam a contraposição ao triste presente representado pelos bolsonaristas Roberto Alvim e Regina Duarte.

4) Como foram as entrevistas?

As entrevistas ocorreram de modo virtual, e constam na íntegra do livro. Nós selecionamos dez perfis com base em diferentes profissões, municípios e regiões do País, como também buscando equiparar a quantidade de vozes de homens e mulheres, negros e brancos, a compor esta publicação.

Ao mesmo tempo, à medida que todos os entrevistados teriam o desafio de estabelecer um paralelo entre o MinC pré-2018 e a atual conjuntura, cada um já teria que ter atuado ou sido beneficiário de um programa anterior do MinC. Isso vale desde o gestor municipal no interior paulista até a pesquisadora de fandango caiçara no Rio.

5) Um resumo do que é a obra e o que o leitor poderá aguardar?

Desde 2019, o Ministério da Cultura (MinC) se tornou em Secretaria Especial da Cultura, vinculada atualmente à pasta do Turismo. Criado em 1985, o MinC foi o epicentro de diversas políticas públicas do setor por todo o país. Afamado e difamado em razão das polêmicas da Lei Rouanet, o ministério teve um amplo histórico de programas, como a Lei Cultura Viva e a Lei do Audiovisual. Mapear Pontos de Cultura, fortalecer a salvaguarda de patrimônios imateriais e criação de praças integradas com demais serviços públicos são parte de sua trajetória.

Diante desse repertório de pesquisa, nós, autores partilhamos nesta obra as suas escutas sobre os impactos na era pós-MinC. Foi a partir de entrevistas com gestores públicos, técnicos e trabalhadores da cultura de diferentes áreas (como artes cênicas, visuais, cultura popular e música) de oito municípios e dos estados Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além de Brasília no decorrer de 2021.

6) Qual foi a sensação que teve ao concluir a obra?

A pandemia influenciou muito no ritmo da obra: imagina, todo o livro foi gestado em conversas virtuais com o Rafael. Eu só o vi recentemente, este ano. Por mais que seja significativo, é um tipo de registro que é como um grito, uma inquietude diante do escárnio que o reacionarismo provoca ao sufocar e extinguir gradualmente as políticas culturais. Foi representativo lançarmos a obra este ano na Associação Cultural José Martí da Baixada Santista.

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