Médica cotada para o Ministério da Saúde justifica recusa
A alegação é que "não houve convergência técnica entre nós"
O Brasil já sabe que o médico Marcelo Queiroga irá assumir o Ministério da Saúde. Mas quem era a mais cotada para o cargo de ministra era a médica Ludhmila Hajjar. Ela era apontada para ser a substituta de Eduardo Pazuello como titular da pasta, mas recusou o convite.
A justificativa dada é que “não houve convergência técnica”, já que ela defendia o isolamento social para reduzir as mortes por COVID-19, além de prioridade excessiva na negociação e compra de vacinas. E ela comentou também a situação do país.
“Cenário no Brasil é bastante sombrio. O Brasil vai chegar em 500 mil, 600 mil mortes”, afirmou ela. Segundo a médica, o que o governo esperava não se encaixa no seu perfil. “A minha qualificação, os meus planos e meus objetivos seguem uma linha, que eu acho que é distinta do governo atual. Então, só me cabe respeitar e agradecer a oportunidade.”
“Penso pra isso neste momento, para reduzir as mortes, tem que reduzir a circulação das pessoas, de maneira técnica e respaldada por dados científicos. E um Ministério da Saúde forte pode dar esse respaldo que os governos estaduais precisam, esse apoio e essa união. Penso e considero ser emergencial a abertura de leitos com capacitação estrutural e humana.”
Sugestões
Ludhmila Hajjar também apontou sugestões para que o Ministério da Saúde trabalhe para reverter a situação catastrófica que o Brasil vive na pandemia. Além das medidas de isolamento e busca de vacinas, que as equipes médicas sejam melhores orientadas. Um protocolo nacional precisa ser criado.
“O Brasil precisa de protocolos, e isso é pra ontem. (…) Nós estamos discutindo azitromicina, ivermectina, cloroquina. É coisa do passado. A ciência já deu essa resposta. Cadê um protocolo de tratamento? (…) Perdeu-se muito tempo na discussão de medicamentos que não funcionam.”
A médica ainda revelou que ao ter seu nome cotado para assumir o Ministério da Saúde, redes bolsonaristas fizeram uma série de ataques e ameaças de morte.
“Nestas 24 horas houve uma série de ataques à minha pessoa, à minha reputação. (…) Estou num hotel em Brasília, e houve três tentativas de entrar no hotel. Pessoas que diziam que estavam com o número do quarto e que eu estava esperando-os. Diziam que eram pessoas que faziam parte da minha equipe médica. Se não fossem os seguranças do hotel, não sei o que seria…”
Vacinas
Sobre vacinas, Ludhmila defendeu que cidades, estados e o Governo Federal deixem as diferenças de lado e busquem uma união para obter as vacinas para imunizar toda população. Para ela, houve falta de negociação de doses com os fabricantes, “por subestimar a gravidade da pandemia”.
“Não podemos perder tempo com as vacinas. Nós já perdemos muito tempo. Tem que ser um esforço nacional, com melhora da articulação nacional. O Brasil tem que falar com a OMS, tem que falar com o mundo todo, tem que pedir ajuda e tem que ser ágil na aquisição de vacinas. A gente esperar que a população seja vacinada até dezembro, a gente vai perder muitas vidas.”