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Vizinha desabafa e pede paz após bilhetes racistas em Santos

Uma nutricionista é quem escreveu mensagens com diversas ofensas

A vizinha que mora em um condomínio de Santos alegou nesta terça-feira (11), que não tem tido paz por conta dos bilhetes racistas colocados no prédio. A autora deste crime é uma nutricionista de 56 anos e ela pede por segurança. A Polícia Civil já iniciou as investigações.

Segundo ela, os principais xingamentos que ela relata são “preta retinta”, “porca” e “maloqueira”. Pra piorar, a mulher, que prefere não se identificar, alega ter sofrido também ameaças de agressão. Isso aconteceu no dia em que a nutricionista foi presa. Segundo ela, duas vizinhas relataram que a nutricionista havia colado em suas portas papéis com dizeres como “negra vaga*****”, “porca”, e ainda que “negro quando não faz na entrada faz na saída”. As ofensas, além de coladas nas portas das vítimas, também estavam espalhados na área comum do condomínio.

Segundo relataram as moradoras no registro da ocorrência, ela teria, ainda, ameaçado matar duas vizinhas com uma barra de ferro. De acordo com as mulheres, a suspeita costuma atirar garrafas nos corredores e já as ameaçou de morte outras vezes.

“Na segunda-feira passada, ela colocou um bilhete em que falava diretamente sobre mim. Nas escritas, dizia ‘a negra daquele apartamento’. E aí, poucos dias depois, ela escreveu ‘negra vaga*****’ na minha porta, e eu liguei para a polícia para saber como era o procedimento. Foi quando eles falaram que estavam mandando uma viatura, e que teria que ir para a delegacia. Fizemos o boletim de ocorrência, foi solicitada perícia científica e fomos para casa”, conta.

Tentativas de agressão

Já na última quarta-feira (5), a mulher relata que a vizinha, ao vê-la conversando com outra moradora do condomínio, pegou uma barra de ferro para agredi-las. “Ela danificou a minha porta. Tentou, ainda, me bater com a barra, e eu tentando me defender. Aí, consegui pegar a barra da mão dela. Ela saiu correndo, usei a barra para segurar a maçaneta da porta, gritamos por ajuda e conseguimos acionar a polícia a tempo de eles chegarem e fazerem o flagrante. Só queria desarmá-la, porque estava com medo”, conta.

A vizinha afirma que continuava ouvindo da nutricionista que ela era “negra maldita”, e que as ofensas continuaram até mesmo na delegacia. O delegado pediu pela prisão da suspeita, mas a investigada foi solta posteriormente, em audiência de custódia.

“As agressões verbais contra os pretos foram absurdas. Ela falava que não tinha que ter tido Lei Áurea para mim. Eu acho que, por tudo que ela fez, o caso deveria se enquadrar no crime de racismo, mas, infelizmente, nossas leis são frágeis nesse quesito. Nesta segunda, ela colocou bilhete novamente, dizendo os mesmos xingamentos. Eu não me sinto mais segura no lugar onde moro. Eu sei que não tenho que sentir vergonha, porque não fiz nada errado. Mas, infelizmente, estou sentindo uma vergonha absurda. Eu tenho medo até de ir na área comum do prédio jogar o lixo e de ouvir mais alguma coisa racista, ou até ser agredida fisicamente”, relata.

Agora, a mulher afirma que está acompanhando o andamento do caso pelas autoridades, e procurou por auxílio jurídico. “A partir do momento em que ela escreveu aquelas coisas horríveis na porta da minha casa, é muito desrespeito. Eu sempre paguei minhas contas, respeitei as pessoas. Então, não dou direito de uma pessoa vir fazer isso comigo. Me pergunto se ela vai continuar sem nenhuma punição, morando no mesmo lugar que eu. Quero voltar a ter minha paz”, finaliza.

Ataques racistas

Mas as agressões e ataques racistas feitos pela nutricionista não pararam apenas na vizinha. Até mesmo quem trabalha no condomínio, também já foi alvo das ofensas raciais.

Em 5 de maio, a mulher chegou a ser presa por ofensas a vizinhas com palavras de cunho racista e por tentar agredi-las, mas foi solta em audiência de custódia. O zelador do prédio, Arilton Souza de Carvalho, relatou que também já foi alvo dos ataques da mulher (leia no bilhete abaixo). Ele registrou boletim de ocorrência contra ela no fim de 2020, devido a uma agressão que sofreu por parte da investigada, e por ouvir em outras ocasiões xingamentos como “negro”, “marginal” e “preto encardido”.

Ele também relatou que, em março deste ano, quando tirava o lixo do condomínio, foi ofendido mais uma vez com palavras de cunho racista. “Nesse dia, após me ofender, ela subiu até o apartamento dela, pegou uma garrafa e voltou para ver onde eu estava. Como a moça da portaria disse que não sabia onde eu estava, ela [nutricionista] a xingou e jogou a garrafa no vidro da portaria. Foi registrado outro boletim contra ela na ocasião, por injúria e lesão corporal”, disse.
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