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Vídeos reforçam a suspeita da atuação do gabinete paralelo de Bolsonaro

A suspeita da existência de um “gabinete paralelo” no meio da pandemia do coronavírus para servir de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) ganhou força graças a um vídeo. Nele, é mostrada uma reunião no Palácio do Planalto em setembro de 2020. O suposto “gabinete” foi citado nesta semana na CPI da Covid.

Com isso, ele se tornou um dos principais eixos a serem investigados pela comissão parlamentar de inquérito. Os parlamentares querem saber agora é se os conselhos dados a Bolsonaro contrariaram a ciência e prejudicaram o combate à pandemia no país.

Além disso, pode ter sido o responsável pelo retardo na busca de vacinas, como no caso da Pfizer. Afinal, segundo as investigações, 53 e-mails da farmacêutica com propostas de compra da vacina foram rejeitados.

Junto com o presidente Jair Bolsonaro estiveram presentes o deputado Osmar Terra (MDB-RS), a médica Nise Yamaguchi o virologista Paolo Zanotto e outros profissionais de saúde. Na última terça-feira (1º), em depoimento à CPI, Nise Yamaguchi negou que integrasse um “gabinete paralelo”.

Nesta reunião, os profissionais apresentam a Bolsonaro opiniões contrárias às vacinas e favoráveis à hidroxicloroquina, remédio que comprovadamente não tem eficácia contra a Covid, mas é defendido pelo presidente e seus aliados.

O shadow cabinet

Em determinado momento, Zanotto propõe a criação de um “shadow cabinet” (gabinete das sombras em tradução literal) para aconselhar o governo sobre a pandemia. “Eu gostaria de ajudar o Executivo a montar um ‘shadow board'”, afirmou Zanotto. Segundo ele, seria algo “como se fosse um ‘shadow cabinet’, esses indivíduos não precisam ser expostos, digamos assim, à popularidade”, afirmou Zanotto para Bolsonaro na reunião.

Um pouco antes, o virologista apresentou opiniões ao presidente, duvidando das vacinas contra a Covid. Ele diz que é preciso tomar “extremo cuidado” e que o Brasil “talvez não” deva ter vacinas contra a doença.

“E uma das coisas importantes que tenho para falar é o seguinte: no contexto da vacina, a gente tem que tomar um extremo cuidado. O Brasil tem uma diversidade genética assombrosa, que faz a população brasileira, provavelmente, uma das grandes mecas no desenvolvimento de vacinas. A gente tem que tomar um cuidado enorme com isso. Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina — ou talvez não — porque o grande problema do coronavírus é que eles têm, intrinsicamente, problemas no desenvolvimento vacinal”, afirmou o médico.

Zanotto também revelou na reunião que Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e ex-assessor especial da Presidência, fazia a interlocução entre os profissionais do aconselhamento paralelo e o presidente Jair Bolsonaro. A participação de Arthur Weintraub no aconselhamento ao presidente é tema da CPI.

“A gente não tem condições neste momento de dizer que qualquer vacina, que poderia estar, realisticamente, no que eles chamam de fase 3. Isso é muito sério. Então, nesse sentido, a gente precisaria — a minha sugestão, até enviei uma mensagem ao Executivo, mandei a carta para Weintraub, para o Arthur — talvez fosse importante se montar um grupo, e a gente poderia ajudar”, afirmou o virologista para Bolsonaro.

Fala de Bolsonaro

Depois da fala de Zanotto, Bolsonaro lembrou que havia vetado um dispositivo aprovado pelo Congresso que determinava a autorização de vacinas no Brasil desde que fossem liberadas pelas agências de controle de alguns países, como Estados Unidos, Japão, os países da União Europeia e a China.

Pelo dispositivo, se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não liberasse o uso das vacinas em 72 horas, a liberação seria automática, desde que esses outros países já tivessem aprovado.

“O projeto foi aprovado na Câmara, e eu vetei um dispositivo. Resumindo: o que foi vetado e a Câmara derrubou o veto depois? Determinava ali: EUA, Japão União Europeia e China. O que chegasse aqui para combater o coronavírus, a Anvisa tinha 72 horas para liberar. Se não liberasse, haveria liberação tácita. Eu perguntei: até a vacina? Até a vacina”, afirmou Bolsonaro.

E complementou: “Então, a vacina, mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. A gente não pode injetar qualquer coisa nas pessoas e muito menos obrigar. Eu falei outro dia: ninguém vai ser obrigado a tomar a vacina, e o mundo caiu na minha cabeça”, disse Bolsonaro.

Osmar Terra

Osmar Terra é médico e foi ministro do Desenvolvimento Social no governo do presidente Michel Temer. Logo no início da pandemia, ele despontou como um dos principais conselheiros de Bolsonaro. Na reunião do início de setembro, Terra faz uma defesa da hidroxicloroquina, contrariando as evidências científicas. Detalhe, já haviam evidências claras que ela era ineficaz.

“Aqui tem um especialista em arritmia cardíaca, presidente. E ele é o primeiro a dizer que não tem problema usar hidroxicloroquina”, afirmou Terra. Nessa hora Bolsonaro respondeu. “A gente viu o depoimento de um amigo nosso, também falou exatamente isso: não tem problema nenhum. Foi potencializado, exatamente para o pessoal fugir, talvez por ser um remédio muito barato”, argumentou o presidente.

Observação: Alguns vídeos são grandes e podem demorar para serem executados. O tempo de resposta depende da qualidade e da velocidade da sua internet.

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