Brasil em luto. 600 mil vidas que a Covid-19 tira das famílias
Embora o número de casos e mortes estejam em queda, números ainda são altos
Fatalidade, imprudência, negligência e demora por vacinas. Estes e outros fatores podemos classificar a situação do Brasil na pandemia. Nesta sexta-feira (8) chegou a marca irreparável de 600 mil vidas perdidas pela Covid-19. Pra piorar só neste ano, foram 405 mil mortes registradas, o que fez com que o país se tornasse o que tem mais óbitos no mundo.
No total o Brasil chegou a 600.077 mortos pela Covid-19, divulgou o consórcio de veículos de imprensa em boletim extra na tarde desta sexta-feira (8). Já em casos confirmados, são 21.893.752. E mesmo com a desaceleração que a pandemia está, com uma média de mortes na casa de 438, não nada que faça com que as dores dos familiares seja reparada.
O brasileiro e o governo em geral precisam parar de pensar que a vida é só um número, uma mera estatística. O impacto que esta perda traz a uma família é irreparável. Tudo poderia ser evitado se assim que os testes da vacina começaram, ainda em abril de 2020, o governo brasileiro já se prontificasse a comprar os imunizantes no exato momento em que ficassem prontas e liberadas.
Especialistas acreditam que mais da metade das 600 mil vidas perdidas poderiam ser poupadas se as vacinas chegassem antes. Mas também não podemos esquecer da falta de medidas de proteção que não foram comandadas e lideradas pelos governos federal, estaduais e municipais. E a própria população tem culpa nisso, por se deixar levar pela emoção e desobedeceu as regras de distanciamento, de isolamento e do uso da máscara.
Desaceleração
Essa desaceleração se expressa também no tempo que a doença levou para tomar mais 100 mil vidas ao Brasil desde que atingimos a trágica marca de 500 mil mortes: foram 111 dias, o dobro dos 51 dias que o país levou para passar de 400 mil para 500 mil óbitos.
Naquele o momento, morriam em média 2 mil brasileiros por dia – mais de quatro vezes a média atual. Em abril deste ano, pior momento da pandemia, a média passou de 3 mil mortos por dia.
Veja o cronograma abaixo:
- 1ª morte: 12/3/2020
- 100 mil mortes: 8/8/2020 (149 dias depois)
- 200 mil mortes: 7/1/2021 (152 dias)
- 300 mil mortes: 24/3/2021 (76 dias)
- 400 mil mortes: 29/4/2021 (36 dias)
- 500 mil mortes: 19/6/2021 (51 dias)
- 600 mil mortes: 8/10/2021 (111 dias)
Mas, apesar de o número de vítimas do vírus ter despencado nos últimos meses, o Brasil ainda é o 3º país com a maior média diária de novas mortes, atrás apenas de Estados Unidos e Rússia.
O país também mantém a marca de ser o que mais registrou vítimas da pandemia em 2021 no mundo: já foram registradas 405 mil mortes por Covid-19 neste ano, mais do que Estados Unidos e Índia e quase o mesmo que todos os 27 países da União Europeia somados.
Melhora no cenário da pandemia
O Brasil já tem 69% da população vacinada com ao menos uma dose e 45%, totalmente imunizada. Além disso: todos os estados e o DF estão com mais da metade da população parcialmente imunizada e três deles –Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo– têm mais de 50% de sua população com o esquema vacinal completo.
No contexto mundial, país está em 59º no ranking proporcional (que leva em consideração o número de doses aplicadas em relação à população), com 113 doses aplicadas a cada 100 habitantes. Em termos relativos, estamos atrás de países como Cuba (190), Uruguai (181), Chile (170), El Salvador (119), Panamá (119), Equador (116) e Argentina (115).
Ou seja, mesmo com os avanços, os especialistas alertam que a pandemia ainda não acabou.
“Apesar de 300, 400 mortes por dia ser muito abaixo do que vimos recentemente, ainda é um número muito elevado de óbitos diários. Nenhuma possibilidade pode ser descartada, mesmo com metade da população completamente vacinada ainda, podemos ter novas tragédias”, afirma Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Alerta continua
Para Helena Brigido, vice-presidente da Sociedade Paraense de infectologia e mestre em Medicina Tropical, o controle viral que poderia trazer “controle” da pandemia, ocorrerá quando as possibilidades de infecção forem mínimas.
“Temos milhões de brasileiros ainda sem vacina nas diversas regiões do país. Além disso, ainda não ocorre vacinação ampla e as crianças também ainda não têm vacina. E mesmo em uma proporção menor, ainda estamos tendo muitos casos de Covid.”
Por conta disso e da variante delta, ela acredita que “é possível ocorrer infecções em idosos, profissionais de saúde, pessoas com comorbidades que ainda não fizeram a terceira dose e/ou naqueles que nunca foram vacinados”.
A queda de casos e mortes para Helena ocorre pela “combinação entre imunidade natural, ou seja, pessoas que já tiveram a doença e ainda têm anticorpos, e pela imunidade passiva, aquela ocorrida pela proteção da vacina.”
Cuidados devem seguir
Por mais que números menores de mortes possam dar alento para retornarmos para a normalidade e pensar em encontrar a família e os amigos nas festas de final de ano, os especialistas alertam que ainda é muito cedo para começar a dispensar cuidados contra a Covid, como o uso de máscaras e o distanciamento social, por exemplo.
“A pandemia é dinâmica e tudo isso vai depender do momento em que estivermos vivendo quando essas festas chegarem. Podemos planejar essas festas, mas dependendo da situação epidemiológica do país no momento, essas festas podem não acontecer. Ainda estamos caminhando na cobertura vacinal e precisamos de uma cobertura vacinal forte de segunda dose, e ainda não é o caso”, explica Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Weissman concorda: “A situação da pandemia no país é muito melhor do que em outros tempos, mas não se pode abusar. O vírus e as variantes de preocupação continuam em circulação e, dessa maneira, pessoas suscetíveis, que ainda não estejam totalmente protegidas, podem ser infectadas.”
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