A música transforma a vida de cadeirante que supera desafios
Bilo dá um "tapa" nos obstáculos e revela como a música que mudou a sua vida
Nesta quarta-feira (21) é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que consagra o setembro verde, como o mês da inclusão. Apesar das datas que mobilizam a sociedade, a pessoa com deficiência (PCD), ainda enfrenta muitos desafios, quer sejam físicos ou psicológicos, com o preconceito que ainda cerca estas pessoas. Só que há pessoas que apesar das limitações, conseguem tirar de letra e levam a vida como se fosse uma melodia musical.
E foi justamente graças a música, que a Rede Noticiaz ouviu e relata a história de Cristiano da Silva Siqueira, o Bilo. Morador de Várzea Paulista, Bilo é portador de Raquitismo Hipofosfatêmico, um distúrbio que faz com que os ossos se tornam moles e doloridos, ocasionando dores ósseas, fraturas e anormalidades do crescimento. Entretanto, Bilo, que é cadeirante, conta que foi a música que mudou a sua vida e hoje é o que ele mais gosta de fazer.
Ele conta que foi uma criança que chorava muito, o que é normal em muitos casos, mas lembra que, quando começou a andar, sentia muitas dores. “Aos 8 anos tive a minha primeira fratura. Quebrei o fêmur em três lugares ao passar em um pequeno buraco”, contou Bilo, lembrando que dos 8 anos 13 anos, foram muitas fraturas. “Contei 36 fraturas só nas pernas. Hoje pesquisando, entendo que esta doença se agrava na puberdade, mas atualmente está estacionada. Ainda assim, tive outras fraturas nos braços, costelas, etc. “, exemplificou.
História
Bilo conta que, neste período mais difícil, quando começou a usar cadeira de rodas, aos 13 anos, que a música tocou seu coração.
“Houve uma música ‘Via láctea’ do Renato Russo, que falava que, …quando tudo está perdido, tem um caminho…E quando ouvi esta música decido que era isso que eu queria fazer e tocar o coração das pessoas. Foi quando eu comecei a compor e a tocar violão”, salienta, relembrando que anos mais tarde, montou a Banda Projeto Ativo em 2002, que ganhou alguns prêmios.
“Em 2004, a banda tinha gravado apenas um som e participamos de um concurso da rádio 89 FM, que tinha como prêmio, abrir o show de duas bandas internacionais e uma nacional”, lembra.
“Me lembro que embrulhei o CD em um papel e entreguei na rádio e para nossa surpresa, ganhamos o primeiro lugar entre 400 bandas do Brasil e além de ter a música tocada na rádio, isso sem ter mensionado no release que era deficiente, e abrimos o showdo Dead Fish (nacional), Pennywise e Bad Religion (internacional). Mais tarde, a banda viria a ganhar novo prêmio, desta vez, no Programa A Vez do Brasil , como melhor banda de rock independente de 2004”.
Desafios da música
Bilo destaca ainda que, nunca foi fácil ser músico no Brasil e a situação piora ainda mais quando se é uma pessoa com deficiência.
“Na maioria das vezes, falta estrutura nos locais onde nos apresentamos. 95% das vezes tive de ser carregado até o palco, as vezes até pela frente do palco. Mas, ainda assim, diante de tantas barreiras, a música fazia com que eu pudesse vencer os desafios”, destacou, principalmente por que, segundo ele, sempre teve o apoio da família, desde que iniciou seus primeiros passos na música, com todo apoio do pai (que também é músico), mãe e irmãos.
“E atualmente tenho a minha família, minha esposa e filho, que me apoiam em tudo. E quando tive meu filho, quis voltar a fazer música, pois, meu filho nunca me viu num palco. E estou ansioso para isso”, salientou.
Outro momento difícil em sua vida, conta Cristiano, foi durante a pandemia do Coronavírus, não apenas para a banda, mas também para ele, particularmente, por ser do grupo de risco. “Além de cadeirante, sou asmático e confesso que fiquei com muito medo e por isso, parei com as atividades da banda”, contou.
Mas, Bilo teve também muitos momentos felizes, quando chegou a cantar em uma live para o Rick Bonadio, que é um produtor musical, compositor, empresário e multi-instrumentista brasileiro que lançou os Mamonas Assassinas, a banda Charlie Brown Jr., a banda pop feminina Rouge, além de vários outros artistas renomados. “Eu o sigo no Instagram e na pandemia ele fazia as lives e chamava o pessoal para cantar e acabei sendo chamado por ele, que gostou e fez vários elogios. Foi bem legal”, contou.
Rock in Rio
Este ano, também participou de uma propaganda do Banco Itau para o Rock In Rio. Ele disse que, para sua surpresa, foi convidado para participar do comercial, também através do Instagram. “No começo não sabia sobre o que era, mas no dia do ensaio descobri que era sobre o Rock In Rio e para mim, que sou roqueiro, fiquei muito feliz”.
Depois de vários momentos, Bilo afirmou que está retomando a carreira e a banda e salienta que nada melhor que um momento difícil, como a pandemia, para que a pessoa reflita sobre sua vida e trace novos planos. “Tudo que tem acontecido comigo, tem sido um incentivo para que eu retome minha carreira musical. A pandemia fez com que eu me privasse de tudo que gosto, mas também me deu ânimo para que eu volte ainda mais com vontade de fazer música e de tudo que gosto”, pontuou.
Bilo também falou da importância do Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado no dia 21 de setembro. “Independentemente de ser ou não, uma pessoa com deficiência, é importante viver a vida. Nossa vida é tão única e tão boa, que não tem o por que não vivermos, principalmente se puder fazer o que gosta. No meu caso, a música”, argumentou o músico, questionando a inclusão plena. “Eu sempre ouço falar em inclusão, quer seja na Educação, no Trabalho, mas não ouço falar sobre a inclusão nas artes. E é importante que haja este olhar para a pessoa com deficiência que atua com a arte, e os responsáveis ofereçam oportunidades aos artistas, pois isso faz a diferença” finalizou.
Quem quiser saber mais sobre o trabalho do Bilo, é só visitar o Instagram da banda @bandaprojetoativo e também o @bilopa.
Por Diego Musselli (diegomusselli@jvregional.com.br)
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