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Prevent Senior é investigada por ocultar mortes durante estudo sobre cloroquina

Medicamento chegou a ser apontado como solução contra a Covid-19, mas não teve a eficácia comprovada

Um dossiê adquirido pela CPI da Covid mostrou que o plano de saúde Prevent Senior ocultou informações de pacientes mortos durante estudo para saber a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19.

O presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), que foi o maior defensor do medicamento, apoio a pesquisa. Contudo, especialistas do mundo todo já comprovaram que ele não tem qualquer eficácia.

A CPI da Covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent. O documento informa que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. Segundo o dossiê, o estudo foi um desdobramento do acordo.

A CPI ouviria nesta quinta-feira depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, mas ele informou que não vai comparecer.

A pesquisa

A Prevent Senior começou a pesquisa em 25 de março. Em uma mensagem publicada em grupos de aplicativos de mensagem, o diretor da Prevent, Fernando Oikawa, fala pela primeira vez do estudo e orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação.

Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina. Dois estavam no grupo que não ingeriu as medicações. Há um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação.

Houve, portanto, pelo menos o dobro de mortes entre os participantes que tomaram cloroquina. Para preservar as identidades, a reportagem vai mencionar apenas as iniciais, o sexo e a idade dos que morreram.

Bolsonaro falou sobre o estudo

O primeiro documento relativo ao estudo foi um pré-print divulgado em 15 de abril de 2020. Os pré-prints são a primeira versão de uma pesquisa e precisam ser revisados por outros cientistas independentes.

No artigo, o coordenador do estudo, o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent Senior, menciona a ocorrência de apenas duas mortes no grupo que usou as medicações. Os óbitos, segundo o artigo, foram provocados por outras doenças, sem relação com o coronavírus ou com as medicações.

“Não houve efeitos colaterais graves em pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina. Dois pacientes do grupo de tratamento morreram durante o acompanhamento; a primeira morte foi devido à síndrome coronariana aguda e a segunda morte devido a câncer metastático.”

Não há, no entanto, entre as vítimas ninguém com as doenças mencionadas pelos coordenadores. Três dias depois, em 18 de abril, o presidente Jair Bolsonaro fez uma postagem no Twitter sobre o estudo. Citando a Prevent Senior, menciona a ocorrência de cinco mortes entre os pacientes do estudo que não tomaram cloroquina e nenhum óbito entre os que ingeriram as medicações.

Comissão de ética suspendeu pesquisa

O estudo chegou a ser submetido à Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e aprovado, mas o órgão suspendeu a pesquisa por constatar que a investigação começou a ser feita antes da aprovação legal.

Até hoje, no entanto, o estudo é usado pela própria Prevent Senior para justificar a prescrição da cloroquina aos seus associados. Ao longo da CPI, foram várias as menções.

Resposta da Prevent Senior

Em nota, a operadora negou e repudiou as denúncias, e disse que está tomando medidas para investigar quem, segundo a empresa, “está tentando desgastar a imagem da Prevent Senior”.

Disse ainda que os médicos sempre tiveram a autonomia respeitada, e que atuam com afinco para salvar milhares de vidas.

A empresa reiterou que os números à disposição da CPI demonstram que a taxa de mortalidade entre pacientes de Covid-19 atendidos por seus profissionais de saúde é inferior as demais.

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