Trabalho

Gordofobia no ambiente de trabalho: crime a ser combatido

Entenda o que é, os impactos e como combater

Com a evolução da sociedade, pautas como diversidade e inclusão estão sendo cada vez mais discutidas, principalmente, no ambiente corporativo. E um dos temas mais discutidos na sociedade atual é a gordofobia, especialmente dentro do ambiente de trabalho.

Além de discriminação e preconceito, praticar a gordofobia também é crime. Entenda o que é ela, porque isto ocorre e como combater.

O que é Gordofobia?

De acordo com o dicionário Priberam, gordofobia significa repulsa ou preconceito contra as pessoas gordas. Esse tipo de discriminação, por conta do biotipo, se estende ao campo afetivo, social e/ou profissional, negando acessibilidade a corpos gordos de diversas formas no dia a dia. Estes fatores correspondem a 57% da população brasileira.

Comportamentos e insultos gordofóbicos geram situações constrangedoras e, até mesmo, humilhantes, que marginalizam socialmente pessoas gordas.

Por conta disso, a discriminação e o preconceito, recebidos por meio de comentários, “brincadeiras” ou isolamento, têm um impacto muito grande na vida dessas pessoas.

Uma pesquisa feita pela pela Catho, empresa de recrutamento on-line, realizada com mais de 31 mil executivos pelo Brasil, identificou que 65% dos presidentes e diretores de empresas tinham alguma restrição na hora de contratar pessoas gordas.

Essa problemática é bastante complexa e é preciso combatê-la em todos os níveis, mas, principalmente, no ambiente de trabalho, uma vez que é um local onde as pessoas passam a maior parte do seu tempo. Então, vamos entender agora de que forma ocorre a gordofobia e os impactos dela na vida das pessoas colaboradoras.

Como ocorre no ambiente de trabalho e quais são as consequências negativas?

Como afeta vários âmbitos da vida de uma pessoa, no ambiente profissional não poderia ser diferente. Muitas pessoas que não são vistas socialmente como encaixadas em um padrão estético, já passaram por inúmeras situações de insultos, relacionadas a sua aparência, corpo e peso, inclusive em entrevistas de emprego.

Muitas pessoas gordas passam por comentários ofensivos no ambiente de trabalho, como os tipos de insultos a seguir, muitas vezes, considerados “apenas brincadeira”:”você vai entalar nessa cadeira!”

  • “será que você vai dar conta do serviço?”
  • “você tem um rosto tão bonito, por que não emagrece?”
  • “ele(a) é bonito(a), mas é gordinho(a)!”
  • “sabia que o plano de saúde cobre cirurgia bariátrica?”
  • “deixa um salgadinho pra mim, ein?”
  •  “você deveria comer menos!”

Além desses tipos de comentários pejorativos, as organizações, muitas vezes, não adequam o espaço físico de trabalho para garantir acessibilidade, nem trabalham a desmistificação do tema por meio de campanhas de conscientização.

Um estudo realizado pela Pesquisa Mapeamento da Gordofobia no Brasil identificou que:

  • 50,1% dos brasileiros precisam lidar com colegas de trabalho que fazem piadas com o próprio corpo ou com foco em outras pessoas gordas;
  • 50,4% lidam com a falta de cadeiras e mobiliários adequados;
  • 56,1% enfrentam o desafio com uniformes que causam constrangimento e falta de disponibilidade de tamanho;
  • 41% apontam cabines de banheiro estreitas nos escritórios e ambientes de trabalho;
  • 29,2% afirmam ter dificuldades de acessar o mercado de trabalho;
  • 8% relatam que as empresas preferem que a pessoa gorda não tenha contato direto com cliente e fique no backstage;
  • 6,5% não foram aprovados no exame admissional por conta do peso;
  • 22,9% das pessoas gordas enfrentaram gestores que sugeriram perda de peso.

Todos esses dados mostram práticas abusivas e discriminatórias que geram constrangimento, aborrecimento, humilhação, vergonha do corpo e/ou da condição física.

Conforme a psicóloga e especialista em transtornos alimentares, Gabi Menezes, a discriminação às pessoas gordas no ambiente de trabalho causa marginalização. “Ela não se sentirá pertencente e os impactos psicológicos dessa violência afetam não só a saúde mental, mas muitas vezes também a física.

Quando pensamos na saúde mental, podemos listar ansiedade, estresse, depressão, sentimento de negação, inadequação e até transtornos alimentares”, descreveu.

Sofrer condutas abusivas e, até mesmo violentas verbalmente, ainda pode causar para o colaborador:

  • baixa autoestima,
  • isolamento social,
  • estresse,
  • uso de drogas,
  • baixa produtividade,
  • compulsão alimentar,
  • distorção da própria imagem, corroborada pelo reforço de um padrão estético, entre outros.

Esses danos, fruto de piadas de mal gosto, discriminação e comentários ofensivos, precisam ser mitigados. Por isso, há uma ferramenta indispensável no ambiente de trabalho que auxilia no combate à gordofobia.

Como um Canal de Denúncias pode mitigar a gordofobia no ambiente de trabalho?

Por ser uma forma de discriminação, bullying e preconceito, as empresas precisam adotar medidas efetivas para as pessoas colaboradoras, a fim de coibir essas atitudes nocivas no ambiente de trabalho.

A primeira medida importantíssima a ser executada são os treinamentos e campanhas de conscientização sobre a gordofobia.

É preciso educar as pessoas em relação ao tema e elucidar os impactos negativos que alguns comentários, piadas e brincadeiras podem ter na vida das pessoas gordas.

E, a segunda medida, indissociável à primeira, é um Canal de Denúncias externo, profissional e funcional, com permissão ao anonimato e total segurança quanto à confidencialidade, visando dar credibilidade e confiança ao relatante.

O Canal de Denúncias é um aliado do colaborador, pois oferece a oportunidade à vítima de relatar e denunciar a ofensa recebida.

A partir do momento em que a Alta Direção e líderes tomam conhecimento de práticas discriminatórias, é possível averiguar e executar as medidas corretivas, a fim de garantir a manutenção de um ambiente saudável, justo, igualitário e acolhedor a todos.

Tudo isso gera um ciclo virtuoso dentro de uma empresa, evitando impactos negativos na vida e nas atividades que cada um executa. Apesar de ainda não existir uma lei específica para gordofobia, é necessário denunciar, pois, se comprovado, qualquer preconceito sofrido no trabalho dá direito à indenização por danos morais ou assédio moral.

Além disso, para o advogado criminalista, Matheus Herren Falivene, em algumas situações, chamar uma pessoa de gorda pode configurar crime.

“Apesar de a gordofobia não configurar o crime de racismo por falta de disposição legal, eventuais condutas gordofóbicas podem configurar o crime de injúria, previsto no artigo 140 do Código Penal”, explicou.

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