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CPI da Covid ouve a ‘Capitã Cloroquina’ que questiona a OMS

Ela defendeu o medicamento, embora a Organização Mundial tenham afirmado que ele é ineficaz

Foram mais de seis horas de depoimento na CPI da Covid-19 da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. Ela, que também é chamada de ‘Capitã Cloroquina’, defendeu o uso da cloroquina no tratamento contra o coronavírus, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS), já tenha afirmado que o medicamento é ineficaz.

Mayra Pinheiro, que é pediatra, fez críticas à OMS, dizendo que a organização já fez recomendações “condenáveis” e “falhas”. Segundo ela, os países – e o Brasil – não são obrigados a seguir as orientações da entidade.

Segundo o relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB), ela entrou em contradição e mentiu à comissão. Mayra Pinheiro reagiu ao ser acusada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) de ter mentido. “Eu peço respeito. Está me acusando de mentirosa, me respeite, senador”, afirmou.

À frente da Secretaria de Gestão do Trabalho, Mayra Pinheiro é responsável pela qualificação e capacitação dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). Durante o depoimento, ela se disse favorável a medidas de prevenção ao coronavírus, como o uso de máscaras e a vacina, e contrária à chamada imunidade de rebanho. Além disso, criticou o “lockdown” e defendeu a reabertura de escolas.

A cloroquina

Aos senadores, Mayra Pinheiro, defendeu o remédio na fase de replicação viral, no início da doença. Ela confirmou que encaminhou ofício à Secretaria de Saúde de Manaus indicando a cloroquina entre os medicamentos, ressaltando que havia “comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde”. No ofício, a secretária reforçou que seria “inadmissível” a não adoção da orientação.

No início deste ano, Manaus enfrentou um colapso no sistema de saúde após a explosão de casos de Covid e o desabastecimento de oxigênio hospitalar. Pacientes morreram pela falta do insumo. Pouco antes do colapso, a secretária esteve em Manaus e defendeu o chamado tratamento precoce.

Segundo ela, o Ministério da Saúde não teve “nenhuma responsabilidade” pelo episódio. “A responsabilidade da doença é o vírus”, pontuou. Conforme a secretária, não houve por parte do ministério uma “recomendação” para o uso da cloroquina, mas uma “orientação”.

“É preciso que nós deixemos claro que o Ministério da Saúde nunca indicou tratamentos para a Covid. O ministério criou um documento juridicamente perfeito que é a Nota Orientativa nº 9, que depois se transformou na Nota Orientativa nº 17, onde nós estabelecemos doses seguras para que os médicos brasileiros, no exercício da sua autonomia, pudessem utilizar esses medicamentos com o consentimento dos seus pacientes e de acordo com o seu livre arbítrio. Foram essas as nossas orientações”, afirmou.

“Se o senhor me perguntar o que os médicos brasileiros e os médicos do mundo, dos países que vêm fazendo esse tipo de tratamento “off label” ou uso compassivo, utilizaram como referencial, eu trouxe aqui e deixo à disposição dos senhores mais de 2,4 mil artigos impressos que referendam as metanálises hoje existentes no mundo, mostrando as evidências que todos nós queremos”, acrescentou.

A crise em Manaus

Mayra Pinheiro desmentiu o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quando falou sobre a crise da falta de oxigênio em Manaus, no Amazonas. De acordo com ela, todos sabiam do desabastecimento do oxigênio.

“Eu estive em Manaus até o dia 5 [de janeiro]. O ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8, e ele me perguntou: ‘Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?’”, afirmou a secretária.

Em janeiro deste ano, o número de internações por Covid disparou na cidade, as unidades de saúde ficaram superlotadas, e pacientes morreram por falta de oxigênio. Diante do colapso de saúde em Manaus, o ex-ministro foi ao Amazonas em 11 de janeiro, quando anunciou um plano de contingência.

O TrateCov

Mayra Pinheiro também apresentou uma versão diferente ao dar explicações sobre o TrateCov, plataforma virtual do governo que indicava o tratamento precoce para pacientes após eles informarem os sintomas – sequer era necessário exame de confirmação da doença.

Ao depor, Pazuello apontou a secretária como responsável pelo desenvolvimento do aplicativo. O ex-ministro disse, porém, que a plataforma não chegou a ser oficialmente lançada e que um hacker havia “roubado” o TrateCov e jogado uma versão incompleta na rede.

No entanto, a TV Brasil, que pertence ao governo, divulgou o lançamento e entrevistou médicos que diziam já fazer o uso do aplicativo. A secretária negou a autoria do aplicativo e disse que foram os técnicos da secretaria que o desenvolveram. Ela também disse que não houve ataque hacker nem modificação da plataforma.

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