Bolsonaro ataca o uso de máscaras para quem se vacinou
Os especialistas discordam desta ideia e temem uma piora de casos

O presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) disse nesta quinta-feira (10), que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga uma espécie de “parecer” para que a população não use máscara. A medida seria válida para quem se vacinou contra a Covid-19 ou para quem já pegou e se curou da doença.
O ministro da Saúde disse que recebeu o pedido de um estudo sobre as máscaras. No entanto os especialistas são contrários a esta medida, isso por conta do momento crítico da pandemia do coronavírus no Brasil, que passou de 480 mil mortes.
A declaração de Bolsonaro aconteceu no Palácio do Planalto, na solenidade de lançamento de programas do Ministério do Turismo. O presidente usou máscara antes e depois do evento. Mas ele só retirou a proteção para discursar.
“Acabei de conversar com um tal de Queiroga — não sei se vocês sabem quem é —, nosso ministro da Saúde. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”, declarou.
Jair Bolsonaro fez uma transmissão nas redes sociais e alegou não ter imposto nada ao ministro da Saúde. “Eu falei com o Queiroga agora. Não impus nada a ele. Se bem que também tenho que dar minhas piruadas aí, no bom sentido. ‘É possível a Saúde apresentar um estudo aí da desobrigatoriedade da máscara para quem já foi vacinado ou para quem já foi contaminado e curado, poxa?’. Ele falou: ‘É possível, é possível’. Vamos fazer isso. Vamos ficar reféns de máscara até quando? Está servindo para multar gente, pessoal. Está servindo para multar. Eu fui ameaçado agora de multa em São Paulo”, declarou.
Ministro confirma ‘estudo’
À noite, em vídeo gravado pela assessoria do Ministério da Saúde, o ministro Marcelo Queiroga disse ter recebido um pedido de Bolsonaro para fazer um estudo sobre as máscaras (vídeo acima).
“Recebi do presidente Bolsonaro hoje uma solicitação para fazer um estudo acerca do uso das máscaras”, afirmou Queiroga, que vem defendendo o uso da proteção. Ele reiterou essa afirmação em depoimento à CPI da Covid.
Segundo o ministro, Bolsonaro “acompanha o cenário internacional” e “vê que em outros países onde a campanha de vacinação já avançou, as pessoas já estão flexibilizando” o uso das máscaras. “Então, vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à Covid”, declarou.
Especialistas são contra o não uso da máscara
De acordo com os especialistas, esta proposta do presidente da República é considerada temerosa. Eles dizem que mesmo que a população esteja vacinada, ainda precisam usar a máscara e também evitar as aglomerações.
“A vacina tem boa eficácia em evitar que a sua doença acabe se agravando e você precise até de hospitalização, mas ela não tem tão boa eficácia em evitar que você se contamine”, explicou a médica infectologista Luana Araújo.
“Então, enquanto a gente não tem uma boa parte de população plenamente vacinada, é preciso sim usar máscara, evitar aglomerações e preferir ambientes naturalmente ventilados”, disse.
Munir Ayub, membro do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor de Infectologia da Faculdade de Medicina do ABC, afirmou que “não existe essa possibilidade” de se prescindir do uso da máscara no atual estágio da pandemia.
“Não tem nenhum sentido. É uma orientação apenas política porque não tem nenhuma justificativa médica para isso. Mesmo a pessoa que já teve ou que já foi vacinada não está livre de se reinfectar. Enquanto estiver circulando o vírus neste nível alto, não existe essa possibilidade. Neste momento é temerário”, disse.
Para Renato Grinbaum, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, o anúncio de Bolsonaro é “completamente fora do aceitável”. “Não existe nenhuma lógica para suspender uso de máscaras. A vacina previne bem as formas graves, mas não é uma ferramenta tão poderosa para evitar infecções leves e transmissão. No momento em que se discute aumento de casos em algumas regiões e a possibilidade de terceira onda, este tipo de proposta é completamente fora do aceitável.”
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