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O Talibã volta a tomar conta do Afeganistão

Presidente do país admitiu a vitória do grupo e deixa o poder

Depois de 20 anos, o Afeganistão volta a ser controlado pelo grupo extremista do Talibã. Nesse domingo (15) o presidente Ashraf Ghani teve de fugir após o palácio presidencial ser tomado. A última vez que o Talibã esteve no poder encarou em 2001.

A saída do presidente do Afeganistão pegou muito mal. Abdullah Abdullah, ex-vice-presidente e chefe do Conselho Superior para a Reconciliação Nacional, disse que Ghani “abandonou a nação”. Ghani disse que deixou o país para evitar um banho de sangue. Ele afirmou que “incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída” se permanecesse.

Presidente deixa o poder. Créditos: Reuters.

“O Talibã venceu … e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas”, disse ele em um comunicado postado no Facebook. “Agora eles enfrentam um novo teste histórico. Ou preservam o nome e a honra do Afeganistão ou dão prioridade a outros lugares e redes”, acrescentou.

Segundo a rede egípcia Al Jazeera, um ex-guarda-costas do presidente informou que o Palácio presidencial foi entregue oficialmente ao Talibã. Um alto oficial do Ministério do Interior afegão disse à agência de notícias Reuters que Ghani embarcou para o Tajiquistão, que faz fronteira com o norte do Afeganistão.

Já o ministro do Interior, Abdul Sattar Mirzakwal, gravou um vídeo em que garante uma “transferência pacífica de poder”. “Os afegãos não precisam se preocupar, não haverá ataque”, disse o ministro. “Haverá uma transferência pacífica de poder para um governo de transição.”

O governo do Talibã

O governo do grupo extremista aconteceu entre os anos de 1996 e 2001. Na ocasião as mulheres não podiam trabalhar, as meninas não podiam frequentar a escola e todas tinham que cobrir o rosto e estar acompanhadas por um parente do sexo masculino se quisessem sair de casa.

As mulheres que infringissem as regras às vezes sofriam humilhações e espancamentos públicos pela polícia religiosa do Talibã que atuava sob uma interpretação bastante rígida da sharia, a lei islâmica. Além disso, que fosse contra o governo poderia estar sujeito a punições severas, incluindo a morte.

Mas agora em 2021, os porta-vozes do Talibã alegam que irão respeitar os direitos das mulheres, com acesso à educação e ao trabalho. Mas com a obrigatoriedade do uso do hijab, lenço que cobre os cabelos e rosto.

Eles também afirmaram que as mulheres terão autorização para deixar suas casas sem a companhia de um membro homem da família. Essa mudança no discurso vem sendo apontada por especialistas em Oriente Médio como uma forma do movimento se aproximar da comunidade internacional.

Repercussão no mundo

Em um comunicado, o Talibã garantiu neste domingo que “todas as embaixadas, centros diplomáticos, instituições, lugares e cidadãos estrangeiros em Cabul não enfrentarão nenhum perigo”.

Os Estados Unidos concluíram neste domingo a retirada de seus diplomatas que trabalharam na embaixada do país em Cabul e a bandeira norte-americana foi retirada do local. O país também apressou a emissão de vistos para colaboradores, como tradutores e jornalistas afegãos que prestaram serviços aos EUA.

“Aconteceu mais rápido do que pensávamos”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em entrevista à rede americana CNN. Blinken disse que Washington investiu bilhões de dólares em quatro governos dos EUA nas forças do governo afegão, dando a eles vantagens sobre o Talibã, mas, ainda assim, não conseguiram impedir o avanço do grupo.

Itamaraty não tem registro de brasileiros vivendo no Afeganistão. Também não está prevista, por ora, medida de proteção específica para os funcionários da embaixada em Islamabad, uma vez que a cidade não está em zona de conflito. O Reino Unido ordenou a saída imediata de cidadãos britânicos das cidades afegãs.

O governo da Alemanha enviou aviões para ajudar na retirada de seus diplomatas, fechou sua embaixada em Cabul e pediu a saída imediata de alemães que vivam no país. Segundo reportagem do jornal “Bild”, tradutores e colaboradores afegãos que atuaram com o governo de Berlim também serão retirados da capital.

Rússia não planeja retirar seus funcionários de sua embaixada em Cabul, enquanto os combatentes talibãs cercam a capital afegã, assegurou uma autoridade russa à agência Interfax.

“Nenhuma evacuação está planejada”, declarou Zamir Kabulov, o enviado do Kremlin ao Afeganistão, destacando que estava “em contato direto” com o embaixador russo em Cabul, cujos colaboradores continuam a trabalhar na embaixada.

Monitoramento e caos na saída da população

Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) confirmou que continuará com sua presença diplomática em Cabul e oferecerá apoio para que o aeroporto da capital continue funcionando, segundo informações da agência de notícias Reuters.

“A Otan está constantemente avaliando os desenvolvimentos no Afeganistão”, disse um funcionário da entidade que não foi identificado. “A segurança de nosso pessoal é primordial e continuamos a ajustar conforme necessário. Apoiamos os esforços afegãos para encontrar uma solução política para o conflito, que agora é mais urgente do que nunca.”

Milhares de pessoas invadiram a pista no aeroporto internacional de Cabul nesta segunda-feira (16) e multidões tentaram entrar em aviões para tentar deixar o Afeganistão, agora dominado pelo Talibã. O tumulto deixou mortos.

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