Literatura brasileira perde Lygia Fagundes Telles aos 98 anos
Escritora premiada com os prêmios Caões e Jabuti e era integrante da Academia Brasileira de Letras
Neste domingo (3), a literatura do Brasil perdeu Lygia Fagundes Telles, aos 98 anos, em São Paulo. A escritora era ícone da literatura brasileira e também era integrante da Academia Brasileira de Letras desde a década de 1980 e já recebeu os prêmios Camões e Jabuti.
Segundo infomrou Juarez Neto, da Academia Brasileira de Letras (ABL), ela faleceu em casa, de causas naturais. O velório será aberto ao público, na Academia Paulista de Letras, localizada no Largo do Arouche, Centro da capital paulista. O corpo da escritora será cremado.
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, informou que o estado decreta luto oficial por três dias pela morte da escritora paulista. “A grande dama da literatura brasileira retratou a vida de gerações de homens e mulheres. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, escreveu Garcia em uma rede social.
Em nota, a Academia Paulista de Letras lamentou sua morte. “A mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto houver leitor no mundo”, escreveu José Renato Nalini.
História de Lygia
Lygia recebeu vários prêmios ao longo da carreira, tais como o Camões (2005), e o Jabuti (1966, 1974 e 2001). Ela tem obras traduzidas para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco, português de Portugal, além de adaptações de suas obras para o cinema, teatro e TV.
Lygia nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923 e passou a infância no interior do estado. Logo depois de alfabetizada, reproduzia nos cadernos escolares as histórias que ouvia. Ela escreveu seu primeiro conto, “Vidoca”, em 1938.
Na época do ensino Fundamental, ela voltou para a capital com o pai, advogado, e a mãe, pianista, e estudou na Escola Caetano de Campos, colégio tradicional da cidade. Com apenas 15 anos, publicou seu primeiro livro de contos, “Porão e Sobrado”.
Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, onde se formou. Quando era estudante do pré-jurídico, a jovem cursou a Escola Superior de Educação Física da mesma universidade.
Segundo a ABL, ainda na adolescência manifestou-se a paixão, ou melhor, a vocação para a literatura incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo. Lygia considerava Ciranda de Pedra (1954) o marco inicial de suas obras completas. O romance virou novela na TV Globo quase 30 anos depois, em 1986.
Também em 1954, nasceu seu filho Goffredo da Silva Telles Neto, de seu primeiro casamento. Cineasta, ele viria lhe dar duas netas: Margarida e Lúcia, mãe da única bisneta, Marina.
Livros
Ainda nos anos 1950, foi publicado o livro Histórias do Desencontro (1958), que recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro.
O segundo romance, Verão no Aquário (1963), Prêmio Jabuti, saiu no mesmo ano em que já divorciada casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes. Em parceria com ele, Lygia escreveu o roteiro para cinema Capitu (1967) baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis.
A década de 1970 foi de intensa atividade literária e marca o início da sua consagração na carreira. A escritora publicou alguns de seus livros mais importantes: Antes do Baile Verde (1970), As Meninas (1973), Seminário dos Ratos (1977) e o livro de contos Filhos Pródigos (1978).
Em 1977, em plena ditadura, foi uma das autoras do “Manifesto dos intelectuais” contra a censura. Em 1985, ela foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, se tornando a terceira mulher a entrar para a ABL, e fez um discurso histórico.
“Imaginai uma reunião na linha dos malditos, dos raros, daqueles que pelos caminhos mais inesperados escolheram a ruptura. Fora do tempo e ocupando o mesmo espaço estão todos em uma sala. É noite. Os gênios ignorados num país de memória curta, que parece preferir os mitos estrangeiros, como se estivéssemos ainda no século 17, sob o cativeiro do reino. Os mitos estrangeiros que continuam sim nos vampirizando. Nós já estamos quase esvaídos e ainda oferecemos a jugular no nosso melhor inglês, o vosso amor é uma honra para mim”.
De acordo com a ABL, a consagração definitiva viria com o Prêmio Camões (2005), distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obra.
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