Saúde

Começa a pesquisa em busca de vacina contra o HIV

Especialistas vão usar a tecnologia similar do imunizante contra a Covid-19

Pesquisadores iniciaram uma pesquisa para encontrar a vacina contra o HIV, vírus causador da Aids. A tecnologia do imunizante do RNA, que está presente no imunizante contra a Covid-19 será utilizada. Ela encontra na fase 3, onde os seres humanos poderão ser testados. A expectativa é que os resultados e a conclusão aconteça dentro de dois anos e meio, em 2024.

Ao todo serão 3.800 pessoas se ofereceram para participar dos testes nos Estados Unidos, México, Itália, Espanha, Polônia, Peru, Argentina e Brasil. No país, serão oito centros de estudos que foram cadastrados. O Hospital Emílio Ribas é um deles.

A pesquisa no hospital foi chamada de Mosaico, porque combina genes de vários subtipos do vírus HIV – mais de 90% dos tipos que circulam hoje no mundo. A Faculdade de Medicina da USP acaba de aderir a um consórcio internacional que busca novas soluções para eliminar o HIV de dentro das células dos pacientes infectados. Mas outros grupos, como o da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), também perseguem o mesmo objetivo em diferentes projetos de pesquisa.

Após 40 anos dos primeiros diagnósticos de Aids, nos Estados Unidos, a doença que já matou mais de 35 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, 350 mil morreram pela doença e continua mobilizando pesquisadores em busca da cura.

Como será a pesquisa?

De acordo com a USP, o objetivo é verificar a eficácia de um imunizante contra o HIV tipo 1 e seus subtipos mais frequentes nas Américas e na Europa. Há outro estudo “primo-irmão” do Mosaico sendo feito na África.

Foi a partir da plataforma da Janssen usada no desenvolvimento da vacina contra a covid-19 que surgiu a ideia de aplicar a mesma tecnologia para buscar um imunizante contra o HIV, utilizando, inclusive, o mesmo vetor, o adenovírus.

Segundo o infectologista Bernardo Porto Maia, coordenador do projeto no Instituto de Infectologia Emilio Ribas (SP), o adenovirus26, causador de resfriado comum, é alterado em laboratório para não causar a doença.
A esse adenovírus modificado é acoplado um mosaico de estruturas genéticas dos mais diversos subtipos de HIV tipo 1 circulantes nos territórios onde o estudo acontece.

“Quando recebe essa vacina, o adenovírus funciona como um cavalo de Troia para conseguir expor o indivíduo ao HIV. A pessoa não se infecta com o vírus, mas entra em contato com estruturas genéticas dele a ponto de induzir uma resposta de defesa contra esse vírus”, explica Maia.

Consórcio

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP acaba de se unir a uma rede global de pesquisadores que persegue esse objetivo. O consórcio tem investimentos de US$ 26,5 milhões do NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) por cinco anos. É liderado por três instituições americanas (Gladstone Institute, Scripps Research Florida e Weil Cornell Medicine), que tem colaboradores pelo mundo. No Brasil, o grupo da USP foi o único escolhido.

“A cura é um anseio da comunidade científica desde a descoberta do vírus. Todo mundo tentou e nunca deu certo até aparecer o Timothy Ray Brown [primeira pessoa curada do HIV e que morreu ano passado vítima de câncer]”, diz o infectologista Kallás, coordenador da pesquisa no Brasil.

Brown, que ficou conhecido como “paciente de Berlim”, curou-se após receber transplante de medula óssea de um doador com resistência natural ao vírus da Aids. Depois dele, Adam Castillejo, o “paciente de Londres”, também se livrou do vírus por meio do mesmo método.

Nas pesquisas conduzidas pela Unifesp, a estratégia de tratamento combina dois tipos de medicamentos. Ela também tem o objetivo de acordar o vírus, tirando-o do estado de latência, e matar a célula com o vírus.

No estudo piloto, com 30 voluntários distribuídos em seis braços, três pacientes tiveram a doença controlada, sendo que um deles chegou a ser considerado curado após o HIV desaparecer de suas amostras sanguíneas. Mas no fim do ano passado, ele voltou a apresentar o vírus. A hipótese, ainda sob estudo, é que tenha sido reinfectado por um novo subtipo de HIV.

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