Nesta quinta-feira (20) aconteceu na CPI da Covid, a segunda parte do depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. A sessão continuou porque na quarta-feira ele saiu alegando ter passado mal. E na oitiva, ele alegou não ter recebido ordens do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), mas buscou defender o Executivo Federal.
Quando foi questionado sobre a compra das vacinas Pfizer, a qual foi rejeitada em outras ocasiões, Pazuello disse que esperava uma Medida Provisória ser aprovada para fazer as compras. Ele também falou do TrateCov foi suspenso após um ataque hacker e contou que o Governo Federal tinha um longo plano de combate à pandemia de Covid-19, mas que não conseguiu implementá-lo porque o Supremo Tribunal Federal (STF) “limitou” as ações do Executivo.
No decorrer do depoimento, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que Pazuello mentiu em pelo menos 14 oportunidades e defendeu a contratação de uma agência de checagem de informações. O objetivo, segundo o parlamentar, é que seja feita uma “varredura das mentiras ou verdades” que estão sendo ditas na CPI.
“Tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. Pazuello mentiu em 14 oportunidades flagrantemente e ousou negar suas próprias declarações. Só se é uma nova cepa o que estamos vendo aqui. A negação do negacionismo. Deve ser uma nova cepa”, disse Renan.
Crise do oxigênio no Amazonas
Ao ser questionado pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA) sobre sua atuação diante da crise em Manaus, Pazuello afirmou que “foram tomadas todas as ações que podiam ser tomadas naquele momento”. “Sofri muito em Manaus. Perdi parentes e amigos. Seria absurdo dizer que isso não me afeta. Claro que existem limites, mas foram tomadas todas as ações que poderiam ser tomadas naquele momento”, disse o ex-ministro.
“As pessoas que trabalhavam com a gente e estavam lá foram sendo contaminadas. Isso é muito sério. Minha família estava em Manaus e estavam todos com medo. Eu olho para Manaus todos os dias.”
Sobre a crise no fornecimento de oxigênio aos hospitais do Amazonas, Pazuello disse considerar que os principais responsáveis neste caso são a empresa White Martins, principal fornecedora do estado, e a secretaria de Saúde, que não acompanhou os estoques do insumo.
“Fica claro para mim que a preocupação com o acompanhamento do oxigênio não era um foco da secretaria de saúde do estado do Amazonas, isso lá em dezembro. Ficou focada em outras coisas… No plano de contingência apresentado para nós não havia nenhuma medida sobre oxigênio”, disse Pazuello.
“Então, a empresa White Martins – que é a grande fornecedora – já vinha consumindo a sua reserva estratégica e não fez essa posição de uma forma clara desde o início. Começa aí a primeira posição de responsabilidade. O contraponto é o acompanhamento da secretaria de Saúde, que não fez”, completou.
Negociações para obter vacinas
O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) perguntou a Pazuello, sobre os contratos de vacina negociados pelo Ministério da Saúde. Ele negou que tenha deixado de responder às propostas feitas pela farmacêutica norte-americana Pfizer e voltou a dizer que, tão logo foi aprovada a Medida Provisória com as condições jurídicas, o contrato com a empresa foi assinado.
Já sobre a Coronavac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, o ex-ministro afirmou que o presidente nunca falou com ele pessoalmente para não comprar o imunizante. “[Não foi comprado antes] porque não havia MP que permitisse. Nós fizemos a carta de intenção para o Butantan no dia 17 de outubro, que é a carta que vale. A próxima medida é o contrato, que só é possível com a Medida Provisória, sancionada e publicada no dia 6 de janeiro”, disse.
“A outra vacina [da AstraZeneca] foi diferente. Foi encomenda tecnológica e só foi distribuída com registro. Não fizemos encomenda tecnológica com o Butantan pela simples razão que ele já dominava a tecnologia. Tinha que ser por compra”, completou.
Já ao ser perguntado porque no painel de informações do novo coronavírus do Ministério os dados sobre os pacientes recuperados da doença aparecem com mais destaque que o número de mortos, Pazuello disse que é uma forma de “dar clareza que 97% de pessoas salvas é importante”.
Mais tarde, o militar voltou a tratar da carta da Pfizer. Questionado pelo presidente da CPI se teria recebido a carta da farmacêutica, Pazuello confirmou e ressaltou que já estava tratando da compra de imunizantes com a Pfizer desde abril de 2020. O ex-ministro disse também que as negociações não começaram com o documento.
Omar Aziz perguntou, então, o motivo do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten ter participado da reunião com a farmacêutica, o ex-ministro não soube responder. Pazuello, no entanto, disse que se encontrou com o ex-secretário em uma única oportunidade.
“Nunca. Falei com Wajngarten uma vez. Estava sendo tratado no nível técnico o tempo todo. Mas acredito que teve sim contato do Wajngarten com Carlos Murillo, mas não sei porque e nem como. Ele não falou comigo sobre isso”, disse.
Flávio Bolsonaro
Ainda durante a fala de Marcos Rogério (DEM-RO), o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pediu a palavra e disse que sua família era citada o tempo inteiro na CPI. “Questão de ordem já que ele está falando da família… O nome de Carlos toda hora é trazido como se houvesse um conjunto de pessoas criminosas. Quero dar o nome de quem aconselha o presidente”, afirmou o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Toda hora falam de família, já vi até ministro sendo acusado de dar conselho paralelo ao presidente da República. O nome é pastor Silas Malafaia, esse fala quase diariamente com o presidente e influencia o presidente”, completou. Marcos Rogério afirmou, então, que apresentará um requerimento de convocação para que o pastor seja ouvido pela CPI.
Pazuello teria passado mal
Em outra questão de ordem, o senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que nunca partiu dele a afirmação de que o ex-ministro teria passado mal.
“Ontem [quarta-feira] a minha preocupação foi recuperar Pazuello da quase síncope que ele teve. Queria esclarecer porque as pessoas falaram coisas divergentes. Só tive uma intenção porque é um instinto de médico”, disse o senador.
Pazuello agradeceu o apoio de Alencar nessa questão e dise que o episódio foi “aumentado”. “Sim, as coisas vão se transformando… falaram que a sessão foi suspensa porque passei mal. A mídia que colocou isso e não tem nada a ver uma coisa com a outra. O senhor foi atencioso, quero agradecer pessoalmente. As coisas vão sendo aumentadas.”
Decisões sem interferência da presidência
Eduardo Pazuello afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não o obrigou a tomar decisões na época em que esteve à frente da pasta.
“No que tange ao Ministério da Saúde e ao SUS, posso afiançar ao senhor que não tive pressão do presidente Bolsonaro para tomar essa ou aquela decisão”, afirmou.
Conforme Pazuello, “é óbvio” que para qualquer decisão todo o contexto é analisado. O ex-ministro, no entanto, confirmou que não decidia sozinho. “Sempre tomava de forma tripartite”.
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