Esporte

Conheça o time de handebol paulista LGBTQIAP+ que vai disputar um torneio em Portugal

Agremiação pede ajuda de doações e relata a história da origem e da mensagem por inclusão

O esporte é para todos e com esta missão, os Bulls, associação de diversidade esportiva foi criado para garantir a prática de algumas modalidades, principalmente o handebol, especialmente para o público LGBTQIAP+, alvo constante do preconceito. Agora o desafio é de buscar ajuda e patrocínio para a disputa da Marci Cup e da Maia Cup, em Portugal.

Desde 2017, quando foi criado em São Paulo, os Bulls começou originado da Associação de Diversidade Esportiva, como um grupo de amigos jogando futebol. Mas o que era apenas eventual, cresceu. De lá para cá, os Bulls coleciona títulos, entre eles dois troféus na Champions Ligay, o maior campeonato de futebol LGBTQIAP+ do Brasil.

Atualmente, o time contra com três modalidades: o futebol, handebol e vôlei e com mais de 60 atletas. Além disso, a  associação também realiza ações sociais como o “Quentinha do Arouche” que distribui marmitas e produtos de higiene, além da parceria com a escola de samba Nenê de Vila Matilde onde marmitas também são doadas. Outras ações envolvem campanhas de agasalho e arrecadação de brinquedos no Dia das Crianças.

Tudo isso reforça o objetivo do Bulls: dentro e fora de quadra, todos somos iguais e vestimos a camisa de inclusão e diversidade onde é necessário existir respeito e dignidade para todos., uma  que agora arregaça as mangas para conseguir patrocínio para que o Brasil esteja muito bem representado em dois dos maiores torneios internacionais de handebol para jovens, a Garci e a Maia Cup. O evento acontece nas cidades Maia e Estarreja em Portugal de cinco a 15 de julho.

A Rede Noticiaz conversou com o vice presidente Bulls, Maurício Lima, que deu mais detalhes sobre o grupo, os avanços conquistados e outros desafios.

“Os resultados são ótimos porque muitos dos atletas haviam desistido de jogar por causa do medo do preconceito – a sociedade fez o público LGBT pensar que esporte como futebol, por exemplo, é coisa só pra heterossexual. Quando falam que é coisa pra homem, querem dizer que homem só pode ser hétero. E o time mostra o contrário, esporte é para todos, independentemente de orientação sexual. O que importa é o talento. A nossa função social é essa: igualdade”, explica .

Ainda de acordo com o time, a ideia, além de competir é fomentar os esportes para mais pessoas. “A ideia é que os times treinem bastante, que recebam mais e mais atletas e que o Bulls possa crescer”.

Recentemente, o time de handebol Bulls conquistou segundo lugar tanto nos Jogos da Diversidade em São Paulo quanto na Rio Pride Cup, que serão disputados em Portugal. A equipe de handebol  do Bulls figura entre uma das poucas que existem no Brasil, são cerca de oito times, sendo que cinco estão em São Paulo.

Pedido de ajuda

Para conseguir representar o Brasil, o time precisa de patrocínio. “Esta é uma casa que acolhe muitos LGBTQIAP+ que, em algum momento, deixaram de praticar o esporte por causa do preconceito. Nós fazemos um trabalho incrível neste sentido e somos uma verdadeira família. Também promovemos ações sociais para ajudar a comunidade como entrega de alimentos; a ideia é que nós façamos parte da sociedade como qualquer pessoa, não pela nossa orientação sexual, mas pelas nossas habilidades, somos cidadãos como qualquer um”.

Mas para que consigam viajar e retornar, são necessárias pelo menos 14 pacotes onde existem custos de passagens e hospedagem durante o período de jogos. A estimativa é que o valor fique em R$ 140.000.

Para que o time do Bulls viagem, o time busca patrocínio ou ajuda financeira. A ideia é que os atletas se hospedem em escolas e tenham transporte e alimentação disponíveis. O planejamento envolve chegar em Portugal no dia quatro de julho e deixar o alojamento no dia 16 do mesmo mês. O dinheiro também vai ser usado na inscrição de cada atleta. Para ajudar o Bulls, você pode entrar em contato pelo telefone (11) 98751-5155 ou pelo Instagram @bulls.sp

Relatos

“Você rebola demais!”, ouvia atleta que jogava handebol. Um metro e noventa e cinco e um largo sorrido no rosto. Thiago Soares da Cruz, 33 anos, conhecido como Duplex, já fez parte da Seleção Brasileira de Handebol e hoje joga no Bulls. A carreira começou aos doze anos contra a vontade do pai. Depois de passar por vários times, conhecer várias cidades, estados e países, ele lembra um momento importante para ele.

“Cheguei na seleção brasileira e contei que era gay. Expliquei que não importava se o atleta era gay ou hétero; preto como eu ou branco, o que importa é o talento.” Assim como a maior parte dos atletas, Duplex também viu de perto que muitos homens não viviam plenamente sua sexualidade por causa do medo. Depois que falou ao time sobre sua orientação sexual, enfrentou uma situação complicada.

“Havia um atleta que não usava o vestiário para tomar banho ou se trocar enquanto eu estivesse lá. E eu também não podia entrar se ele estivesse usando o local. Depois de seis meses, ele me abordou e disse que eu era inspiração para ele”.

Duplex completa. “Enfrentei preconceito, mesmo assim sempre coloquei meu sorriso no rosto e vivi meus sonhos. Hoje, tenho vários amigos héteros e que, inclusive, sou padrinho de casamento. É importante ter exemplos para que os atletas de todos os times aprendam a receber os homens gays e percebam que não tem diferença na convivência!”.

Depois que entrou em times de handebol que trabalhavam com as causas de diversidade, Mateus Luiz de Siqueira Nunes, 28 anos, se sentiu à vontade. “Eu sabia que não ia ouvir que eu rebolava demais ou que eu fazia graça demais como acontecia em outros times. Também já fui xingado por torcedores”.

A história do jovem jogador começa na escola quando ele percebia que era melhor não se destacar muito no time de handebol para não ser alvo de xingamentos. Mas não adiantou, o talento apareceu e foi convidado a ser atleta federado.

“Quinze anos atrás, não existia essa preocupação em incluir todo mundo. Amigos meus que sonhavam em ser atletas profissionais foram vetados por causa da sexualidade. Numa universidade particular que estudei, o treinador era homofóbico. Eu não tinha o padrão heteronormativo daquela instituição, me destacava, mas não tinha oportunidades. Só em 2019, quando comecei a jogar em campeonatos inclusivos, me encontrei”.

O atleta do Bulls ainda diz que o cenário é diferente hoje, mas que a luta pelas causas LGBTQIAP+ continua: “Hoje, jogamos de igual pra igual com os héteros. O Bulls tem esse objetivo, ser uma família que oferece acolhimento para quem sofre com problemas familiares ou com algum tipo de preconceito!”, finaliza.

Maia e Garci Cup

A Maia Cup é considerada está entre as maiores competições internacionais de handebol para jovens. O torneio oferece jogos contra diferentes países e também valoriza o respeito entre os adversários. Na 16a edição, são mais de 500 jogos realizados na cidade de Maia, um distrito portuário conhecido pelas praias, festas, karaokês e parques.
A Garci Cup não fica atrás. No ano passado, o torneio amador de handebol contou com 240 equipes de diversas categorias com mais de 3500 atletas em 600 jogos e 12 quadras.

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